Torço para o Goiás. Eu e um primo que virou compadre. Mas na minha família o que mais tem é vilanovence. Algo que não se explica, na minha humilde opinião alviverde. Quando meu avô Sebastião, pai do meu pai, veio de São Miguel do Passa Quatro pra Goiânia, o lugar escolhido para morar foi uma pracinha linda, pequena, em Campinas. Meus tios trabalhavam na 24 de Outubro e todo dia passavam, pelo menos duas vezes a pé, em frente ao estádio do Atlético.
Naquela época, o Atlético estava em baixa, verdade. Mesmo assim. Dois dos meus tios, um deles nem está entre nós mais, são tão vilanovences que é comum interromperem as férias para ir ver jogo no OBA. Estivessem eles onde estivessem, pegavam o ônibus e não perdiam a pelada. O jogo, quero dizer. Tio Ivan é meu símbolo de torcedor. Enquanto vivo, assumia dois vícios, dos quais dizia jamais abrir mão, o que cumpriu à risca: fumar e torcer para o Vila. Imagino quantas nuvens deve ter fumado neste final de semana.
Mas, e eu, como é que vim a torcer para o Goiás e não para o Vila, ou o Atlético, se eu também morei na pracinha da feira com meus avós e tios? Aí que está. Senta que lá vem história. O motivo para eu torcer para o Goiás tem nome, sobrenome e apelido: Carlos Alberto Santos, o Espirro. Uma vez, uma divisão mais nova foi jogar no nosso suado campo de terra em Vianópolis – campo que virou bairro – e o Carlinhos, bem novinho, deu show. O time de Vianópolis era muito bom, importante dizer. Mas Carlinhos, novinho, era uma pérola que o Goiás colheu.
Daquela geração em diante, até que ele deixasse o Goiás, imagino que todos em Vianópolis viraram Goiás de alma e coração. Todos torciam para o filho do seu Ventura brilhar. Lembro que por várias vezes entrei num carro, no início da tarde de domingo ou a quarta, e amarguei horas de estrada de chão até o Serra Dourada pra ver o Carlinhos jogar. Eu e meu compadre, que também morava em Vianópolis quase na beira do campo. Saiba que o irmão dele, mais novo, acabou optando pelo Vila Nova. Já meu irmão, da mesma idade, não. É Goiás de coração.
Carlinhos e o irmão dele, o Cláudio – Cadinho, para os amigos -, são ídolos que marcam a história do futebol goiano e que significam Vianópolis. Torço para o Goiás com paixão. E tenho orgulho de torcer pelo que isso representa. Eles foram craques enquanto jogaram, agora são principalmente gente muito boa, gente que estimula crianças e jovens a torcer por eles como quem torce por nós. O sucesso deles é o nosso sucesso. Em Vianópolis, há muitas outras histórias de jogadores maravilhosos com personalidade digna de respeito e admiração. É isso aquele o peito e o espírito.
Nunca fui bom de bola. Era fominha, de jogar meia noite na quadra iluminada porque antes os grandes ocupavam o espaço e a gente ficava de banda. Só quando iam embora a gente jogava, inclusive quando tava chovendo no campão.
Meu dia de glória foi quando entrei em campo num finalzinho de jogo e fiz um gol por cima do goleiro. Lembro de ter ficado tão embriagado com o momento que logo em seguida levei uma bronca do treinador para acordar para realidade. Mas deixei minha marca. Deixei o registro de uma geração que era Deus no céu e Carlos Alberto Santos na nossa terra.
Só mais uma coisa sobre o Cadinho. Menos conhecido que o irmão, teve destaque na lateral do Goiatuba. O que me admirava, porém, era que ele jogava, logo estava em Vianópolis, aí jogava futebol de salão no ginásio e na manhã seguinte ia para roça representar seu time local. E voltava para ser titular da nossa seleção a tarde. Minha proximidade sempre foi maior com Carlinhos. Mas Cadinho nunca foi, para mim, um ídolo menor. Sua dedicação aos amigos, sua disposição para jogar, seu preparo físico, sua alegria de estar no lugar que amava, tudo isso contava e conta para mim.
Carlinhos, Cadinho e outros tantos amigos e colegas de futebol em Vianópolis são parte do que meu coração tem de impossível. Só quem é de lá para entender isso.
* Texto publicado pelo Diário de Goiás.