Deu a louca na base governista. O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) tem avaliação nas alturas, segundo recentes pesquisas publicadas. E está em campanha aberta para ser candidato a presidente da República. Em Goiás, ele não tem oposição, logo se entendia que estava tudo fácil e pavimentado para ele fazer o que quiser e quando quiser. E ele vinha fazendo. Até que…
Até que no início do semestre passado foi plantada uma sementinha que agora está dando frutos, e parece que frutos da maldade, calma, frutos do caos. Para Caiado, o caos não é doce. Na pressão e bordoadas impressa nas redes sociais pela equipe do presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto (mesmo partido do governador), a que era tida como candidata preferida de Caiado e seu vice, Daniel Vilela (MDB), à Prefeitura de Goiânia, Ana Paula Rezende, anunciou que estava fora da disputa.
Saiu da frente, da linha de tiro, de Bruno. O governador a tudo assistiu e nada fez. Bruno então deitou e rolou como pré-candidato governista. Com a força da mídia do legislativo, passou a ocupar todos os espaços. Até que surgiu Jânio Darrot, empresário e ex-prefeito de Trindade, como novo nome de Caiado e Daniel Vilela. Jânio apanhou pouco, porque logo falou demais – assumiu que era carta marcado do governo no jogo. E mergulhou no silêncio. Semana passada, porém, voltou à baila, com agenda de pré-candidato a prefeito da Capital, bênção do governador nos bastidores e informação vazada e enfatizada de que Bruno foi desautorizado a continuar sua pré-campanha pelo governador. Isso em longa conversa entre os dois.
Semente da oposição
Em vez de paz, o que se vê na sequência: de repente começam a surgir em grupos e trincheiras pontuais notícias negativas contra Darrot, e o pai de Bruno, Tião Peixoto, com recados em vídeo direcionados abertamente a Caiado. Em um, fala em caminhada de um milhão de passos a Trindade caso Darrot ganhe; em outro, provoca Caiado a liberar o filho pra sair do União Brasil e poder se filiar em outro partido para ser candidato a prefeito de Goiânia, com o desafio de que será eleito com três vezes mais votos que o nome governista.
Com a Assembleia, recentemente Caiado emparedou o Tribunal de Contas do Estado (TCE), que tem conselheiros ainda indicados pelo seu arquirrival Marconi Perillo, tucano ex-governador por quatro vezes, e que se posicionou contra a forma de contratação do executor das obras de sua obra dos sonhos: o Cora, hospital para pacientes com câncer. Teremos agora uma reviravolta nessa queda de braços? Está nascendo aí o ovo ou a semente da oposição em Goiás? Quem gosta de política não pode perder os próximos capítulos dessa série morna que de repente ganha ares emocionantes.
Bruno Peixoto já foi eleito e reeleito presidente por antecipação da Alego. Por unanimidade. O poder está garantido. Ele pode muito bem ser candidato e, ainda que perca, seguir presidente da Casa. Só precisa ser liberado. Tarefa nada fácil, por outro lado. Caiado não joga confete; ele é do tipo que mata a cobra e mostra no Instagram. Mas vai que Caiado permuta a saída de Bruno do União Brasil. Nem fale. Um eventual confronto entre o candidato governista e Bruno seria, vamos dizer, avassalador, ou, por que não, devastador para a base governista.
PSDB é lealdade
Indo mais porque o destino de Bruno pode ser exatamente o PSDB de Marconi Perillo. É o que indica uma das declarações – ameaça? – de seu pai circulando nas redes. Nessa barafunda toda, entrou inclusive o candidato do PL à prefeitura, atacado e que reagiu dizendo sem deixar dúvida que sua candidatura em Goiânia não depende do governador e que até sugeriu a este, quando conversaram pessoalmente, apoiar exatamente Bruno Peixoto. O PL, partido do ex-presidente Bolsonaro, já foi listado como um possível destino de Caiado na sua busca por uma candidatura a Presidente da República. E o governador não esconde o desejo de ser o nome de Bolsonaro em 2026.
No embalo do caos instalado e em modo furacão na base governista, um discurso serve de base para os aliados de Bruno confrontarem o governador: o presidente da Alego sempre foi leal a Caiado e a recíproca, agora, não está sendo verdadeira. O sentimento disseminado é de traição de Caiado ao que consideram candidatura natural a prefeito de uma liderança em alta e que se firmou na defesa do governador e do governo. Donde se tem: Caiado está traindo Bruno? A premissa é forte e não costuma ter boa acolhida no caiadismo. Em tempos normais, a reação costuma ser maior que a demanda.
Para os demais pré-candidatos a prefeito de Goiânia, olhando de longe, tá tudo evidente. Um cenário maravilhoso. Se você tá ligado a eleição ou não, corre, compre pipoca. Não pipoque. O pipoqueiro está trabalhando e aproveitando pra se divertir. E você?
*Texto publicado pelo Diário de Goiás