Onde estou morando agora, um apartamento bem pequeno, tem várias rosas de plástico. Nas fotos de apresentação do flat, tudo é uma maravilha. O cenário com as rosas de plástico é esplêndido, bonito. Não foi isso que me fez decidir pelo flat. Mas o pacote agradou quem viu e quem me ajudou a escolher. As rosas estão lá. Várias. E eu não gosto delas.
E não gosto não por serem de mentira. Porque não são. Elas têm sua verdade. E penso que este seja o ponto mais importante. Elas não são o que deveriam ser, e ao não serem, por serem o que são, não são para mim senão incômodo e tristeza. Elas são de beleza fotográfica, e de uma pobreza real inadmirável.
As rosas do meu pequeno apartamento não carregam jardim nas pétalas, nem terra nas raízes. Não me pedem água simplesmente porque não bebem água. Quando as vejo, não me inspiro, eu suspiro como não quero dentro da vida: com a frustração dos dias que não começam bem, não terminam bem, não são dias de se viver.
Se me derem rosas que se despedaçam ao vento, abrirei a janela e verei nessa tragédia a beleza da renovação, da reiteração dos olhos atentos como batidas do coração. Serei breve como o jardineiro profissional, embora os jardins que rego sejam imortais. Meus jardins são de poeta. Bebem na realidade, florescem na contemplação, resplandecem na ressignificação.
As rosas de plástico estão com seus dias contados. Já um prazo de validade que é industrial, não é fatalidade nem progresso da natureza. Elas vão embora com o tempo, e não com o gesto humano. E elas partirão antes, quando eu me for desta breve morada para outra. Elas seguirão caminho no esquecimento, enquanto eu, caminho contrário, estiver indo, vivendo, sonhando, e colhendo encantamentos na beira da estrada, entre os espinhos, quem sabe, pra você.
* Texto publicado pelo Diário de Goiás