Adriana Accorsi, pré-candidata a prefeita de Goiânia pelo PT, começou a 220 km/h sua pré-campanha, baixou para 60 e agora está em ponto-morto. Vai na banguela e, pelo andar das carruagens em volta, não acena precisar mais do que isso, por enquanto. Continua em empate técnico com Vanderlan Cardoso, do PSD, que ainda não disse categoricamente que é também pré-candidato, mas não disse que não é. Adriana espera um sim de Vanderlan para uma eventual união de forças.
Sim, sei, leitor desta coluna, que já viu esse filme. Leu coisa parecida dias atrás. Como disse, campanha no ponto morto. E essa é a novidade que conduz Adriana até aqui. Falou-se semanas atrás, por exemplo, que o plano de governo estava sendo elaborado. Mas não se falou no assunto. Falou-se em ações mais objetivas para massificar o nome da candidata, e só, nem se mostrou o que está em andamento para Adriana popularizar seu nome e sua pretensão. O mote inicial da campanha, ‘Somar’, somou na largada e sumiu.
Há razão, por certo. Como ela não sai da dianteira, pra quê gastar dinheiro e sola de sandália agora? Um modo de se ver as coisas. Outro é que ela continua ali, na linha de frente, mas não mais sozinha com Vanderlan. Aos poucos, vão se somando na linha de largada, pouco atrás ou um pouco atrás, Gustavo Gayer (PL) e outros retardatários. E tem o pré-candidato do governador Ronaldo Caiado, que por enquanto é quase traço, porque quase-candidato, apenas, mas que de uma hora para outra vai embicar seu celta turbinado (ou não) por ali.
Fato. Adriana não saiu do lugar. Vanderlan não saiu do lugar. Gayer saiu de seu lugar e já está lá, acelerando, incomodando sem precisar nem sair do lugar. Por mais que desdenhem Gayer – e o candidato do governo -, o que se vê é outra coisa: enquanto Adriana e Vanderlan seguem parados, eles chegam chegando. No mínimo é possível dizer que a estratégia de pré-campanha de Adriana e Vanderlan foram uma só: não sair do lugar. Não fazer nada na confiança de que, assim, provavelmente, contam vantagem.
Estratégia é estratégia. Entre petistas, por exemplo, cresce a argumentação de que o primeiro turno está garantido, é o problema menor, uma vez que o partido tem voto e militância e Lula, prin-ci-pal-men-te, para chegar ao segundo. E que o xis da questão é o segundo-turno. Dependendo de quem estiver no segundo-turno, avaliam, Adriana está eleita. Gayer seria o melhor dos mundos, como adversário, já que, com seu radicalismo de direita, afastaria boa parte dos eleitores moderados, que prefeririam então a petista. Combinaram com os russos?
Gayer, porém, pode ter Bolsonaro e Caiado a seu favor, em uma segunda etapa da disputa. Ou pode optar pelo candidato de Caiado, se for este o eleito no primeiro-turno. Neste caso, os moderados da Capital, e os demais partidos derrotados com Gayer e outros, ficariam com um Jânio Darrot (MDB com um pé no União Brasil) caiadista ou penderiam para Adriana? Porque é isto: do lado de Gayer e do governo, e acrescente-se o MDB com várias eleições nas costas em Goiânia, todos querem pegar o PT no segundo turno.
Some-se a este grupo o próprio Vanderlan, que também espera ir para o segundo turno com o PT, porque se considera o moderado por excelência, com chance de puxar radicais de direita, que jamais votariam em uma petista. Conta de padeiro. Vão me dizer que Vanderlan espera mesmo é ganhar no primeiro-turno? Verdade. Os demais candidatos alimentam sonho igual. É da natureza da fé política e da estratégia dizer isso. Vanderlan acredita mais porque sua fé é maior: levará junto com a sua, a candidatura da esposa em Senador Canedo, Izaura Cardoso. Lutará pra ganhar lá e cá. Amém?!
Não falta confiança no PT para a vitória nos dois turnos, porém o fato marcante é este, por hoje: na gangorra, a fé pesa mais no segundo, porque no primeiro a certeza de vitória é maior. Talvez, isso explique a pouca ênfase na pré-campanha, coisa que se pode repetir na campanha do primeiro turno. Toda a energia está sendo guardada para depois, quando a estrela espera brilhar mais forte agora nesta hora mais romântica das indefinições, quando basta a luz de vela.
*Texto publicado pela Tribuna do Planalto