Comprei mais pipoca para os próximos meses em Goiás e confesso que estava tão ansioso que quase compro sem licitação. Não me condenem. Os fatos estaduais por si e aqueles com potencial nacional urgentes demandam reações na mesma medida: urgentes urgentíssimas.
Ana Paula Rezende está fora da disputa pela Prefeitura de Goiânia? Já estava. O governador Ronaldo Caiado trouxe-a de volta antes de viajar para Israel. Ela pensou, pensou, ficou por isso mesmo. Quem sabe em outro momento.
Como culpar alguém de não querer entrar nesta guerra aberta que virou a política goiana, com bala de canhão perdida pra todo lado? Ana Paula tem um sobrenome a zelar, além de seu nome: o dos pais, Iris Rezende e Iris de Araújo.
Pode ser que o senador Vanderlan Cardoso (PSD) lucre com essa decisão de Ana Paula. Ele gostaria de tê-la na sua vice. Acenou de forma clara ao partido isso e aguarda resposta.
O problema: desentendimentos com o vice-governador, Daniel Vilela, e com o próprio Ronaldo Caiado. A solução à vista: sem Ana Paula, Caiado e Daniel continuam sem nome natural que entusiasme suas bases para a eleição.
Jânio Darrot, que ligou o motor nas últimas semanas, já parece ter ido ali tomar um café. Deixou claro esta semana: quem decide seu futuro é o governador. E falou sem mostrar emoção na voz.
Vanderlan conta, a princípio, com outra configuração estelar a seu favor com esta nova mexida no tabuleiro. Caiado, fazendo campanha nacional para ser candidato a presidente e tendo que lidar com a exposição que isso representa – o bate-rebate, o corredor polonês na imprensa nacional -, pode escolher a liderança de Vanderlan à gestação de um novo nome.
A pensar. Vanderlan precisaria, nesta altura dos acontecimentos, fazer o gesto de perdão que o governador espera, por desencontros passados entre os dois – e um pouco com Daniel, também? Ou as novas faculdades e deliberações de sobrevivência eleitoral de Caiado e Daniel prescindem dessa antes exigida liturgia?
Internamente no MDB não falta quem queira a vice de Vanderlan. Como queria a vice de Bruno Peixoto (UB). Ou a vice de Jânio, em último caso. O que Vanderlan oferece: não ser candidato a governador em 2026, e apoiar a reeleição de Daniel. Amém para o cumprimento da promessa? Deus cuida.
Vanderlan tem como alternativa fechar aliança com o PT de Adriana Accorsi. O PT o espera na convicção de que oferece mais que Caiado ao senador, e nem sofre com o fato de que este se oferece, por sua vez, ao MDB. O MDB mesmo, e Caiado, não oferecem nada de volta, a não ser desconfiança.
Para o PT, uma campanha em Goiânia sem Vanderlan, sem um candidato caiadista forte e com um Caiado alvo de escrutinação nacional, tem tudo para efetivar a polarização com o bolsonarismo e, ato contínuo, favorecer a vitória de Adriana Accorsi.
Ao estabelecer Gustavo Gayer, um bolsonarista direitista radical, como adversário, fica desde sempre resguardada a direita moderada para futuro entendimento, no segundo turno. Cálculo simples e matemático, creem.
E tem os efeitos colaterais dos últimos acontecimentos: Caiado está sob holofote nacional e é alvo; Bolsonaro está sob holofote internacional e é alvo; Lula está sob holofote por conta da queda na avaliação de seu governo e é alvo.
Vanderlan pode mudar de lado, uma vez que escolheu um quando buscou o MDB para vice. Revelou seu desejo e deu sua tacada. Porém, ele tem tempo para mudar de lado de novo, e coragem para uma reviravolta: pode oferecer a vice ao PT.
Porque, com Caiado e Daniel sem um nome, e o PT parado à sua espera, pode decidir por candidatura solo, sem governos estadual e federal ao lado. Nenhuma novidade. Em outras campanhas, ele começou com muitos aliados e terminou quase só. Não foi à toa que passou a inspirar desconfiança.
Quem mais tem o que pensar é o governador. O que fazer agora? Insistir com Jânio Darrot, liberar Bruno Peixoto de seu castigo, permitindo que seja candidato a prefeito? Ou, menos pior de tudo, se entender com Vanderlan?
Pensando aqui: Caiado, apoiando Vanderlan, seguiria o caminho tomado pelos ex-governadores Alcides Rodrigues em 2010 e Marconi Perillo em 2016. Seria, para ele, mais uma disputa com apoio de um governo e sua estrutura. Agora, vai?
Até quando o PT vai esperar Vanderlan é uma questão de fundo, hoje. Pode ser até Vanderlan oferecer a vice ao partido, como apoiadores dele já sugerem, sob o argumento de que o PT teria maior possibilidade de ver Gayer e o bolsonarismo derrotados com ele do que com ela. Se é que Vanderlan realmente jogaria assim.
Saber quem lidera e como está montada a estratégia interna no PT é entender quem define os rumos internamente e como a legenda vai caminhar. No fundo, no fundo, o PT precisa de Vanderlan no primeiro turno? É o melhor caminho para a legenda em Goiânia?
Adriana faz campanha sem agenda. Pouco faz na pré-campanha. E nem se trata de marketing. As ações de chão e redes são mínimas. Vai que a estratégia seja mesmo essa: por ora, jogar com ela fora de campo. Então, está explicado.
Seria jogar mais nos bastidores, em vez de expô-la de cara aos torcedores. Isso mais a visão conhecida de que o ideal é Gayer no segundo turno com Adriana. Sem combinar com os russos que, neste caso, vêm a ser os torcedores, e não os jogadores adversários, como na piada do futebol.
E sem combinar igualmente com Caiado, que nessa linha de jogo aí teria de escolher apoiar no segundo turno a petista ou Gayer. Há esperança de Caiado ficar com o PT? Ou cruzar os braços?
Ou a avaliação de que Caiado estará abatido eleitoralmente em outubro para fazer a diferença contra Adriana? A outra questão que vai e volta é: e se Vanderlan for pro segundo turno contra Adriana?
Isso se tiver segundo turno. Quem aglutina mais? Que fazer com Vanderlan? Que fazer sem Vanderlan? Estratégia é estratégia e fim de papo. Quem sabe espera a hora, não faz acontecer.
Haja pipoca. Com licitação.
*Texto publicado pelo Diário de Goiás