Vivemos tempos ridículos. A política está cheia de gente ridícula. A vida anda ridícula. Pedir voto é sério, mas, hoje, os ridículos se sobressaem. Não basta mentir. É preciso mentir e gritar mais alto, sapatear na razão, inventar um mundo irreal em que o sangue alheio é a fantasia. Vencer? Matar o inimigo.
Imprescindível fazer dancinha, antes de se ter ideia do que fazer de fato. Dancinha ridícula. Esta é a nova campanha. Se não viralizar, não tem audiência; se não tem audiência, não chama a atenção; se não chama a atenção, adeus votação. Assim pensam. Assim trabalham. Assim vivem os ridículos em público. No privado, insanos pecadores.
Morremos ridículos o tempo todo. Morremos assim, sem sentir a dor dos outros, a tragédia da devastação das águas no Rio Grande do Sul, o luto no coração dos gaúchos, a miséria contra os sem-teto, a devastação do cerrado. Morremos de temas verdadeiros enquanto os ridículos vivem de nada com nada, a nova ideologia do mundo irreal onde vivem e procriam suas irracionalidades.
Os ridículos não sabem o que dizem. Dizem. Repetem Se repetem. Não sustentam um discurso com início, meio e fim. Não vale a pena, eles não têm pena. Apenas alardeiam o caos: fim da liberdade, fim dos tempos, fim da família, fim da picada. O que propõem? O fim. O fim da dialética em nome da monotemática assunção de seus fins: o mundo à sua vontade e concepção.
Os ridículos tem a visão apocalíptica para tudo que não lhes convém. Os ridículos sabem exatamente o que querem moral e civicamente. Acusam o adversário de roubo enquanto roubam sorrateiramente em nome da causa, do mito, da ridícula contradição de seus atos. São hilários os ridículos. São perigosos todos aqueles que advogam a vida com a hipocrisia da morte aos contrários.
Sem like, sem foto, sem vídeo, sem viralização orgânica dos seguidores e dos perseguidores de outros, sem os rastros deixados no pasto, a roda não gira, o mundo é plano. Sem qualquer pudor, sem medida dos acontecimentos, sem defesa dos fatos senão como convém a si mesmo, e sem principalmente a sequela de uma cegueira automatizada por gatilhos calculados por métricas e psicologia das massas incautas, sem o algoritmo impulsionador, nada vale às penas.
Sem o fundamento dos espíritos sensatos, sábios, curtidos na cultura universal, imbuídos da imperativa ordem civilizatória, e sem a filosofia dos passos humanos, sem os contos e histórias de fadas, do folclore, da imaginação liberta, sem a gente desamarrada da religião, dos domas inglórios e da alteridade acima de tudo e de todos, a vida segue seu curso rumo ao mar – o mar dos ridículos: o abismo infernal.
Mas há esperança. Quem encontrá-la, que a abrace. Antes que gere engajamento e chegue às urnas. Antes que os políticos ridículos e os seus eleitores ridículos tomem conta de tudo. A esperança não morre. A falsa esperança é uma inimiga ridícula. Você é ridículo? Você é ridícula?
*Texto publicado pela Tribuna do Planalto