- Nenhuma discussão de amor esgota o assunto. Sempre haverá o que faltou dizer ou o que foi dito a mais. Uma ponta de desentendimento aqui. Um corte abrupto e fora de lugar feito justo ali, onde dói mais. Sempre há disposição para mais, ou cansaço, que leva a menos. Não discutir não é resolver. Amar sobre todas as coisas, inclusive o não resolvido, é que faz tudo seguir em frente sem perder a graça, sem desatiçar o ardor. Ganhar uma discussão de amor: jamais perder o amor para este amor.
- O superlativo depoimento, a incalculável declaração, a desejosa exposição de sentimentos fazem parte de um amor que nem precisa se exaltar, mas que se precipita no excesso de paixão que se reproduz. As palavras não se contém na volúpia. Por que carregá-las em um fueiro se o caminho faz-se ao transbordá-las?
- O carinho carrega mais flores que o arrebatamento. O carinho dura mais que para sempre o ímpeto. O carinho é uma disposição ao amor explícito. O amor, além dos amantes.
- Beijo roubado é crime imperfeito. Roube o perfume de olhos fechados. Roube o toque na pele com seu sorriso leve arrepiado. Roube o espasmo do corpo com seu corpo cálido. Roube os segundos do frescor do rosto colado ao seu. Roube você e entregue-se de presente, passado e sonho. Não roube calado.
- Em silêncio os amantes se desentendem. Não há segredo.
- A ilusão é a alma. A desilusão, também. Você escolhe ser ou não ser desalmado. Doce ilusão: não escolhe o amor.
- Umas gotas de incrível final feliz caem na boca com suavidade daqueles que se amam. As gotas se reproduzem na sua felicidade, nas suas histórias impossíveis, porém escritas. As gotas alimentam toda sorte de acontecimentos inesquecíveis. O veneno está nos lábios. Onde tudo começa.
- Sofrer de amor é destino que o coração desconhece de origem. Não há razão para o abraço não ser divertido. Não há razão no abraço.
- Curiosa necessidade de se lançar ao mar as cartas de amor. O mar não lê. O mar não conta. O mar leva.
- Nada tenho a dizer. O amor me diz.
* Texto publicado pela Tribuna do Planalto