No passado, aqui no Brasil o mês de agosto era considerado o mês do desgosto, do lobisomem, da assombração e do cachorro doido. Era o mês em que o diabo andava solto, atentando todo o mundo. Por isso as pessoas eram aconselhadas a tomar mais cuidado ao sair de casa.
No tempo de menino, logo que entrava o mês de agosto minha mãe advertia: “Num fica na rua até muito tarde não, senão cê pode topar com o bicho ruim!”
Tudo começou em Portugal, quando os navegadores enchiam os barcos e partiam em pleno mês de agosto, em busca de conquistas de novas terras. Muitos não voltavam, e as esposas ficavam viúvas. E a culpa passou a ser do mês de agosto.
Por causa disso os casamentos deixaram de ser realizados no mês de agosto. Ninguém se casava mais nesse mês. E essa superstição existe até hoje, tanto em Portugal quanto no Brasil. Dificilmente os noivos marcam casamento para o mês de agosto.
Bobagem! Pura superstição. Agosto é um mês normal como qualquer outro. Agosto é um mês abençoado!… Agosto é o mês de Cora Coralina e de Jorge Amado.
Na Rússia, antigamente, essa maldição era amplamente absorvida pelos costumes da população. Os russos difundiam em tom de sussurros e com alguma cautela a propalada “maldição de agosto”, para explicar o elevado número de acidentes mortais, ataques terroristas ou surtos de guerra ocorridos no país, naquele mês.
Mais tarde e durante muito tempo, dava a impressão que essa “maldição” havia sido praticamente esquecida, reduzindo o mês de agosto a apenas mais um interlúdio quente de verão. No entanto, este ano a “maldição” parece estar de volta, em formato assustador de guerra, envolvendo Rússia e o país vizinho: Ucrânia.
A grande pergunta é a seguinte: Por que culpar o mês de agosto pelas atrocidades praticadas pela iniciativa do próprio homem?
No Brasil, os acontecimentos do mês de agosto deixaram de ser “maldição”, para se transformar em mera “superstição”. Na Rússia, infelizmente, “a maldição do mês de agosto” tem ganhado outro nome, não atribuído pelo povo russo, mas pelo governo: “destruição”, em consequência da guerra.
Mas deixa pra lá!… Nós, do lado de cá e felizmente sem guerra, vamos curtir o que ainda resta desse belo e alegre mês de agosto!… Olhe ao seu redor e veja os ipês floridos, os pássaros cantando, as pessoas sorrindo, as famílias se reunindo e festejando…
Os problemas? Ah! Claro que existem. Mas a gente discute respeitosa e pacificamente entre nós e, no fim, tudo se resolve. Não é bom viver em paz? Para que o ódio, a maledicência e a matança de seres humanos? Afinal, para que serve uma guerra?
*Elson Gonçalves de Oliveira foi professor de Língua Portuguesa, é advogado militante e escritor, com vários livros publicados.