Como diz Félix de Bulhões, em seus lindos versos, “O goiano da gema, o da cidade,/é sempre ou quase sempre um bom sujeito,/para o trabalho sério, pouco jeito,/para a intriga, bastante habilidade”.
No meu caso, nascido no “interiooorzão” de Goiás, não sei se me enquadraria melhor nesta categoria ou na dos “mineiros cansados”. Mineiros cansados? Pois é, quem me falou sobre tal definição foi meu saudoso avô, quando eu era menino ainda.
Ele era de uma descendência que veio lá das belas minas gerais e fincou raízes em solo goiano. Seus ancestrais pretendiam caminhar mais e avançar sertão adentro, rumo ao norte, à procura de um futuro melhor, mas se “cansaram” e desarearam a tropa por estas bandas mesmo.
Aqui, meu avô constituiu uma família numerosa. Certo dia, eu lhe perguntei: Vô, afinal, o senhor é mineiro ou é goiano? E eu, o que eu sou? É que diante da minha realidade, nascido em Goiás, mas com sangue mineiro, na minha ingenuidade adolescente queria saber a definição correta para o meu caso.
Meu avô gostava daqui e tinha o coração plantado nas terras goianas, porém as histórias que ele contava eram de além Paranaíba. Falava muito bem dos mineiros, das cidades de lá e contava causos engraçados, despertando na gente o riso fácil e o interesse pela cultura mineira. Saiu de Minas, porém Minas Gerais nunca saiu dele. E influenciado pelo meu avô, acabei gostando da arte e aprendendo a contar casos. Não dos mineiros, mas dos goianos, posto que aqui também tem bons causos, uai!…
Para satisfazer a minha curiosidade, ele me respondeu, esboçando um belo sorriso nos lábios: “Uai, quem povoou Goiás foram os mineiros. O mineiro ouvia falar sobre as terras e as riquezas do outro lado do Paranaíba e punha a mala na cacunda e o pé na estrada. Vinha embora, andando a cavalo, a pé ou em carro de bois. Naquele tempo não havia automóvel. Trabalhava duro, desbravava sertões e ajudava a edificar vilas e povoações, inclusive Goiânia, a linda capital, que agora faz aniversário.
Meu avô era do tempo em que os bens de primeira necessidade, como sal, querosene, arame, tecidos e outros, tão necessários para o consumo e para a formação das fazendas, vinham de São Paulo e do Triângulo Mineiro, e aqui eram transportados via carro de bois, passando por Santa Cruz de Goiás, com destino à cidade de Goiás, que era a capital.
Hoje, Goiás é um Estado próspero, construído por gente bem intencionada e afeita às boas ações e ao trabalho honesto.
E a capital, hem!… Goiânia agora completa 90 anos de fundação, de belezas raras, chamativas e deslumbrantes, de belos monumentos e obras arquitetônicas ímpares, assim como de um povo honrado pelas suas conquistas empreendidas no transcurso dos anos.
Goiânia é o grande orgulho de todos nós, goianos!… Tanto dos “goianos da gema” quanto dos “mineiros cansados” – e por que não dizer dos nacionais de outros estados e dos imigrantes que vieram de outros confins – que são ao mesmo tempo coadjutores e construtores desta obra estupenda e inigualável.
Parabéns, Goiânia!… Parabéns ao povo goiano!…
* Texto publicado pelo Diário de Goiás