A arrogância dos que se acham eleitos pelo povo, e o povo que os ignora

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Políticos querem um mandato de prefeito ou governador de presente de Papai Noel. Mas, e o eleitor, merece tais políticos de presente por quatro anos, quem sabe oito – o poder tudo pode – em sua vida? A pergunta soa como retórica populista, porém me permitam usá-la para tratar de um ponto que merece mais atenção e que tem tudo a ver com o presente e o futuro.

Um pré-candidato se achar o nome perfeito, mais que os outros, para ser o prefeito de uma cidade tem lá sua razão de ser. Ninguém que queira o voto do eleitor vai se apresentar menor. O problema é que canso de ver pretensos prefeitos acreditando no personagem que criam. Ou seja: não exaltam sua qualidade por marketing ou por fé no seu trabalho. Fazem por simples arrogância.

Simples, não. Complicada. Não falo nem nos contratempos que a arrogância cria nas articulações e negociações políticas, naturais em um processo eleitoral – desde que republicanas, claro. Ressalto porque as consequências virão depois. O político que chega ao mandato considerando-se dono dele, e não merecedor da confiança do eleitor, não tem compromisso com a gestão. O compromisso é só com ele mesmo.

O bom gestor monta equipes eficientes, que dão conta do recado. Não partem do princípio de que são melhores do que todos e, independente do secretário que foi escolhido em lista partidária – por exemplo – e não por sua competência na área, ele próprio vai suprir a falha e cuidar de tudo. A arrogância é capaz de tudo, inclusive de brigar com Deus.

Pior são os arrogantes que se veem mais populares do que são. Bajulados por assessores, incensados por companheiros em busca de cargos porque mandatos já não têm ou estão no fim, a arrogância é criada a milho e puxa-sacos e escondem a realidade. Costumam esses candidatos nem chegarem à vitória, tal a certeza de que estão desde sempre com ela garantida. Aí não fazem sua parte.

Pesquisas, então, podem ser farol ou túnel sem luz. Porque não basta ter números; é preciso saber interpretá-los para, cereja do bolo, acertar o rumo e seguir nele de forma estratégica. Pesquisas malfeitas e mal lidas são um desastre. E some-se a isso o cordão dos batedores compulsivos de palmas em torno do candidato camuflando a realidade, e tem-se a tempestade perfeita para a queda no abismo eleitoral.

Falo arrogância, mas não descarto o despreparo de alguns candidatos. Por inocência ou incompetência, vão majestosos para o buraco. Mas a maioria é de arrogantes mesmo. Uma característica deles: não ouvem. Poderia citar aqui políticos com os quais convivi que são especialistas em fazer tudo do seu jeito. Não foi assim que chegaram aonde chegaram? Dizem cheios de razão. Vai ver: onde chegaram? A que custo – financeiro, principalmente?

Empresários são os mais superestimados. Por terem dinheiro e alcançado sucesso em seus negócios, na política têm opiniões críticas sobre outros políticos, mas geralmente agem pior. Contratam consultores para não serem consultores e mão-de-obra não qualificada para cuidar do seu maior patrimônio: a imagem. São candidatos e marqueteiros. No fim das contas, o que resolve de verdade não é sua astúcia. É o seu dinheiro. Isso lhes dá a ilusão de competência que não têm em política.

O mais importante para qualquer político não é ganhar de Natal um mandato. Mandatos podem ser bons e podem ser fim de carreira. Mais produtivo é pedir discernimento, carisma, empatia, competência como gestor e acima de tudo uma equipe de primeira grandeza. Gente sensata, conhecedora do ofício, que entrega resultados positivos e que vai guiá-lo nos momentos difíceis e afastar todo o mal, entre eles o da arrogância.

* Texto publicado pelo Diário de Goiás

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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