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A fácil arte de desagradar políticos

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Quer agradar um político? Fale o que ele quer ouvir. Diga exatamente o que ele pensa. Difícil saber o que ele pensa? De jeito nenhum. Ele está exposto o tempo todo. Ele quer respeito. Ou quer se sentir popular. Quer ser engraçado. Quer outro cargo, mandato, posto. Ele aceita ser ridículo para conquistar seu voto. Ele tem limites, não topa fazer dancinha de TikTok mas aceita participar de uma roda de cantoria sertaneja. Ele tem ideias. Ele tem frases de efeito, rompantes, presença de espírito. Ele é calmo e ponderado. Ele vive se vangloriando, se dizendo eu sou assim e assado, eu prendo e arrebento, eu eu eu.

Apenas repita o que ele diz para ele como se fosse uma percepção sua sobre ele e pronto, você marcou um ponto. Elogie sua esperteza, a inteligência de seus atos, a perspicácia ante os adversários, o terno bem cortado. Não economize. Pode ser discreto, se preferir, mas se for espalhafatoso e fizer isso na frente de muita gente, aí é a glória de correr desabalado para o abraço no canto do campo. Mostre que você está prestando atenção a ele e que o distingue em relação a todos os outros, que o considera acima, superior, um líder que vale a pena seguir em reverência.

Preste atenção aos seus assessores. Quanto mais bajuladores, mais o político terá prazer nos seus cumprimentos. Quanto mais serviçais os eleitos da equipe, mais abençoado o chefe se sentirá. Mais escorreito sentir-se-á. A chamada entourage, que é aquele grupinho de biscoiteiros que cercam o grande político, muito mais você terá espaço para penetrar na vaidade do ser superior. Não se faça de rogado: dê tudo de si para exaltar a figura à sua frente e todas as portas lhe serão abertas, com tapete vermelho e tudo. Ele quer devoção, sabe-se merecedor de sua oração.

Por que motivo haveria você de agradar um político? Eis uma pergunta que repito à exaustão quando vejo o círculo de fogo no baixo orgulho se formar em torno de um. Nada muda: o assessorado se sente o detentor da melhor equipe do mundo, e a equipe só quer fazer o assessorado feliz. E como ele se sente feliz alheio à derrocada, à vida ao redor como ela é, ao jogo político como ele se dá, aos fatos. E como ele se sente mais feliz ainda ser louvado como ser exímio, mesmo se provando o mais errático do mundo. E como ele ama se iludir diante do abismo imaginando ser, a queda, o voo para o paraíso.

Não há que se julgar a equipe pelo político, ou o político pela equipe que formou. É mérito, não é demérito escolher os puxas para carregar seus sacos cheios de orgulho próprio. Os iguais se atraem na velocidade da luz, por isso, desaparecem ao menor comando do interruptor. Agradar político só não é mais lúdico do que agradar assessor idólatra. Você pode se sentir parte, ou o motivo de querer fazer um político feliz. Do contrário será encosto: aquele que diz a verdade e cuida de abrir os olhos, em vez de tapar o sol com a verdade.

Você, meu caro, não sabe o que é um político contrariado no seu ego. Deixe-o em Nárnia. Jamais lhe aponte a realidade. Quem com a realidade fere um político, com a sua maldade será ferido.

*Texto publicado pelo Diário de Goiás

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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