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Adriana Accorsi e as muitas vantagens competitivas em Goiânia

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Adriana Accorsi é o maior diferencial do PT na eleição em Goiânia. Falando assim, a frase parece não ser um elogio ao partido, mas à sua candidata, apenas. Adriana é um nome leve ante um PT pesado, por conta do acúmulo de desgastes dos últimos anos. É bom que se diga: isso não quer dizer que o partido é uma pedra no meio do caminho dela, a não ser que seja a pedra drummondiana, que pesa na vida, mas quebra-se em poesia no olhar.

O PT, como antagonista do bolsonarismo, carrega a dureza dos ataques que sua comunicação não consegue ao menos empatar, mas também a outra dureza, de quem sobrevive e cresce em combate. Por um lado, se beneficia com a polarização. Enfrentar Gustavo Gayer (PL) é a melhor das alternativas, pelo que significaria em um segundo turno a vocação para as alianças. Por outro, porém, seria um risco: Gayer também pode se aliançar. E pode mais.

Pode se valer exatamente do PT com sua frágil capacidade de reagir aos ataques de destruição em massa de Bolsonaro, mais a participação do governador Ronaldo Caiado em um hipotético segundo turno, para crescer e se multiplicar nas urnas. O fato de o PT ter o governo federal nas mãos, ao contrário de tempos atrás, não lhe garante vantagem competitiva. Está mais para um fator de empate de saída, do que para uma bala de prata para o desempate na chegada.

As pesquisas recentes que mostram queda na avaliação do governo Lula chamam a atenção para outra coisa, além do óbvio ululante: a dificuldade de conexão do petismo com as novas ferramentas e tramas da comunicação pública. Mostra que o PT ainda não sabe também como combater na política o bolsonarismo, a direita extrema e a direita mais calma, próxima ao centro. A força ainda é Lula, mostram a história e os fatos recentes, mas Lula não é o PT nas urnas que não são as de suas campanhas.

Lula na disputa, o resultado é um para o PT; Lula como cabo eleitoral – mais distante, no caso de Goiânia -, é outro. Adriana Accorsi é um nome leve porque tem espaço de diálogo aberto em segmentos que o PT não consegue entrar. O mais emblemático é o da segurança. Delegada, ex-diretora da Polícia Civil, ela é mais ouvida do que seria outro nome – e mesmo Polícia Civil e Polícia Militar tendo suas diferenças. Isso conta em qualquer ponto do Brasil hoje, e conta mais em Goiás, onde Segurança é bandeira de resistência de um governador que sonha ser abraçado pelo bolsonarismo e disputar a Presidência com Lula.

Quem já acompanhou Adriana em caminhadas e outros eventos de contato direto com a população sabe de outra virtude dela: a simpatia, a empatia, o carisma. O sorriso que expressa é verdadeiro, um diferencial que entra como agregador; e o abraço que entrega é cheio de verdade. Adriana é uma candidata abraçadora para uma população carente de cuidado e atenção, como não o é Gayer, lembrando aqui, que carrega sempre uma assustadora, agressiva, desesperadora expressão dostoiévskiana.

Mas o PT, em especial o goiano, só ajudará de verdade Adriana se baixar um pouco o tom de voz e a altura do queixo, ir para as ruas pedir, e não exigir votos, e ter coragem de mostrar Lula, e não volúpia para enfiar Lula goela abaixo do eleitor. Lula e Adriana são suaves, não são a razão de nada. Podem somar com Vanderlan Cardoso (PSD) e outros. Mas só vai se multiplicar se olhar de onde veio, porque é para lá que vão as suas vitórias. O PT, se não chegar ao coração das pessoas, vai ultrapassá-las como balas.

São lições naturais e expressões óbvias para uma eleição que tem como foco e força o que isso representa, porque o eleitorado goianiense – claro, falo a partir da minha vivência na cidade e de pesquisas que acompanhei e vi em detalhes – não quer nada mais do que há anos tem de menos: uma cidade obviamente funcionando a seu gosto, a seu favor e que lhe permita sonhar. Gayer é capaz de entregar o pacote? Outro dos nomes no jogo é capaz?

Essa inconstância das pesquisas faz parte da inconstância das almas perdidas e dos tempos cretinos que vivemos. Negar ou ter vergonha de falar do governo Lula com paciência e método e propriedade social, como sei que alguns petistas defendem em conversas reservadas hoje, será depor contra as próprias virtudes. A insegurança (do legado positivo) e a indecisão (na defesa estratégica e empática) podem ser mais adversários do PT nestas eleições do que os próprios adversários.

O PT ainda não sabe derrotar o bolsonarismo porque não se enxerga. Só vê o que o bolsonarismo lhe escancara.

Adriana Accorsi é um diferencial competitivo por ter virtudes próprias e por poder contar com o PT, desde que o PT, saiba somar-se a ela. Aí é povo.

* Texto publicado pelo Diário de Goiás

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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