O impasse dentro da base governista para saber quem será o candidato a prefeito de Goiânia abre espaço para a leitura de que os maiores beneficiados são a deputada federal Adriana Accorsi, o nome do PT, e o senador Vanderlan Cardoso, que não admite mas está no jogo pelo PSD. Porém, há uma outra candidatura que se beneficia diretamente: do deputado federal Gustavo Gayer, do PL.
São benefícios momentâneos, mas também faíscas para o desdobramento da disputa a partir das convenções, no final de julho e início de agosto. Gayer mostra pouca disposição para o diálogo com outras legendas e lideranças. Significa que é mais provável que tenha uma chapa puro sangue ou com partido que gravita em um eleitorado mais radical à direita, onde está a base do bolsonarismo.
Mas as pesquisas mostram que há muito bolsonarismo em Goiânia, ou bastante antipetismo. Só esse eleitorado pode garantir uma presença destacada de Gayer na disputa. Por ora, uma ou outra pesquisa mostra que ele está no pelotão da frente, com Vanderlan e Adriana liderando. E o candidato do governo? Nem existe. E os nomes que são citados, não ameaçam. Por enquanto, pelo menos.
Gayer mais radical, Vanderlan mais ao centro, temos aí provavelmente o primeiro embate da disputa. Haverá eleitor para os dois, evidente, mas quem terá mais fôlego, com o jogo se estabelecendo? Porque veja: o candidato de Caiado também terá um pouco da tendência do eleitorado de Caiado (centro e direita). O mesmo que completa a conta do bolsonarismo nas disputas, como se avalia em geral.
Nesse caso, temos uma disputa dentro da disputa: do centro à extrema direita, brigariam entre si Gayer, Vanderlan e o nome escolhido pelo governador. Algo a ser resolvido no primeiro turno, o mais provável. Ficaria com passe garantido ao segundo turno, então, a candidata do PT. Para disputar com quem? Com aquele que sair vencedor da disputa pelos votos bolsonaristas e nem tanto, embora afins.
Para Adriana Accorsi, o melhor dos resultados é a polarização com Gustavo Gayer. Para Gayer, também. Um segundo turno entre os dois implicaria em provável apoio maior a ela que a Gayer, que tem perfil mais fechado e considerado radical. Isso o que os petistas veem. Para Gayer, significaria que, em tese, todo o eleitorado de centro até a extrema direita fecharia com ele.
Mas pode dar Vanderlan, ou o candidato do governador, no segundo turno. Se de fato do outro lado estiver Adriana, fica mais fácil a ampliação de votos tanto do governista quanto de Vanderlan. Se for contra Gayer, também se beneficia, em tese, um dos dois, por ter maior chance de obter o apoio dos petistas. Aqui o cuidado: falamos de apoio dos candidatos, mas pode ser que o eleitorado não siga este candidato a ponto de fazer a diferença a quem ele apoiar. Esta é por sinal uma visão, ou realidade, que favorece Gayer.
As conversas estão abertas. Uma aposta é que, até julho, Caiado possa escolher, por exemplo, entre apoiar Gayer ou Vanderlan, em vez de lançar um nome – tendência bem difícil hoje, diga-se. E pode ser também que avance a negociação entre Adriana e Vanderlan – outra coisa bem difícil de acontecer. Cito aqui porque são especulações de bastidores; para assessores dos dois lados, chegam a ser torcida.
Estamos longe de ver os times definidos para a final, depois das convenções. Por ora, o que temos é jogadores em campo, como se todos os times entrassem juntos e jogassem contra si, com os técnicos observando tudo e negociando entre si. As pesquisas de intenção de voto mostram favoritismos, mas estão longe de mostrar como esse campeonato será decidido em outubro.
Ps: Uma última observação: este é um livre exercício de avaliação do quadro em Goiânia hoje. Tem base na ciência – as pesquisas e as apurações -, mas é principalmente um livre pensar. Pense. Outros candidatos e outros partidos estarão também em campo.
*Texto publicado pelo Diário de Goiás