As vitórias de Ronaldo Caiado sobre Bolsonaro e o abismo até 2026

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Se o caiadismo estava “restrito” a Goiás, agora ganha notícia nacional, com providencial ajuda de Jair Bolsonaro (PL), que tentou neste domingo de eleição, 27, minimizá-lo, dizendo que o seu bolsonarismo, ao contrário do rival, é nacional.

Ponto para o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que pode comemorar outras vitórias sobre o ex-presidente, em um embate que acontecia nas entrelinhas e que, agora, explodiu de vez.

E não só com o confronto eleitoral de apoios, mas na soma de provocações em entrevistas e, hoje, na esteira de críticas duras do governador ao deputado federal goiano Gustavo Gayer (PL), alvo da PF esta semana.

Gayer, todos sabem, é tipo o 05, outro filho de Bolsonaro e aposta alta do bolsonarismo. A ponto de não ter sido candidato a prefeito de Goiânia para se resguardar para buscar uma vaga no Senado daqui dois anos.

O caiadismo, no sentido político aludido pelo ex-presidente – o sentido histórico é bem mais complexo e fica para outra ocasião -, venceu o bolsonarismo com folga em Goiás neste segundo turno, levando as prefeituras de Goiânia e Aparecida de Goiânia, onde os dois “ismos” disputavam diretamente quem é maior.

Bolsonaro fez campanha entusiasmada nas duas cidades, com visitas regulares e pedidos abertos de voto para Fred Rodrigues, em Goiânia, e Professor Alcides, em Aparecida. Fez também em Anápolis, é bom dizer, para Márcio Correia. Os três são do PL. Mas aí cabe um aparte.

Márcio era mais candidato do vice-governador, Daniel Vilela (MDB), do que de Bolsonaro ou Caiado. Ele disputou e venceu o petista Antônio Gomide. E Daniel não é Bolsonaro: é Caiado. E aqui entra outro componente.

Como Márcio tem igualmente forte relação política com o senador Wilder Morais (PL), a aposta sempre foi em traição sua a Daniel, escolhendo ficar ao lado de Wilder, que é candidato assumido a governador em 2026. Assim como Daniel, que assumirá o governo em abril daquele ano, segundo Caiado.

Com os resultados deste domingo, o mais provável é que o tudo certo tenha ficado tudo incerto e indefinido. Para Wilder, mais que tudo. Ele perdeu Goiânia e perdeu Aparecida, onde apostou todas as fichas em Alcides, que por sua vez perdeu para um parente de Daniel: Leandro Vilela. Ponto para Daniel e ponto dobrado para Caiado, o principal cabo eleitoral nas duas cidades.

O bolsonarismo estava tão animado com as disputas em Goiás que líderes do PL já falavam em candidatura da ex-primeira-dama Michele Bolsonaro a senadora. Seria uma candidatura ao lado de Gayer? Ao lado ou contra a da primeira-dama do Estado, Gracinha Caiado, que se movimenta por uma das vagas possíveis?

Contra, diziam, entre risos. A visão majoritária era, ou é, uma só: Caiado e Bolsonaro não ficam juntos mesmo, e nesse caso o confronto será inevitável. Michele também fez campanha para os candidatos bolsonaristas. Como Gracinha fez para os candidatos governistas. Qual delas tem mais a comemorar?

Fortalecido hoje

Caiado sai fortalecido da eleição. Não ganhou tudo que queria, mas ganhou onde era mais importante. Em municípios onde não ganhou, pode ganhar agora, na arregimentação política. Uma costura natural para quem começou o ano com mais de 80% de aprovação.

A ver, nessa história, só mesmo como se comportará o eleitorado bolsonarista no Estado. Porque vitórias políticas não significam acumulação de eleitores. Em Goiânia, a diferença de 55,53% para Mabel contra 44,47% de Fred. Tirando a ironia do ‘44’ pró Fred, significa dizer que quase 45% dos eleitores da Capital não atenderam o chamado do governador.

Bater de frente com Bolsonaro não é o melhor caminho para Caiado capturar o eleitorado bolsonarista. É uma direita batendo cabeça. E lembremos: nem Mabel, nem Leandro, vestem com conforto o figurino que não seja o de centro. A sedução dos bolsonaristas fica como tarefa de casa para o governador. No mínimo.

Junto com a vitória de seus candidatos e a vitória sobre Bolsonaro, Caiado tem uma outra vitória a comemorar. Depois de Iris Rezende e Henrique Santillo – estamos falando de década de 80 -, só ele conseguiu eleger o prefeito da Capital. Com quatro mandados no governo, por exemplo, Marconi Perillo não teve esse gosto.

Marconi, por sinal, não apoiou ninguém no segundo turno, em Goiânia. O seu PSDB, no entanto, se dividiu. Uma parte ficou com Mabel, outra com Fred e outra em cima do muro: o detalhe: estamos falando de nome pontuais, já que os tucanos hoje são uma legenda pequena, embora com pré-candidato a governador, o próprio Marconi.

O futuro com Tarcísio e cia.

Até onde vai Caiado com seu elevado apoio dos goianos e suas vitórias eleitorais no Estado? Isso o leva à Presidência da República? Difícil, visto que Goiás não está na primeira divisão da política brasileira. O tamanho do eleitorado não ajuda, no caso.

Mas este patrimônio pode fazer o básico: dar sustentação ao seu projeto de disputar a Presidência. É com isso que ele sonha. É com isso que ele joga. Tudo que aconteceu hoje é meio para ele chegar a este fim: a candidatura em 2026. Quem sabe enfrentando diretamente, e não mais por tabela, exatamente Bolsonaro.

Uma última coisa. A disputa para presidente se dá em outubro de 2026. É só aí que ocorre a vitória de fato. A derrota, porém, não tem data para acontecer. Até lá, cada passo é um primeiro e segundo turno em potencial.

Mais forte, Caiado, mais fortes a campanha de seus adversários para derrotá-lo. Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo que acaba de reeleger o prefeito Ricardo Nunes (MDB) sem Bolsonaro, está em campo. E não só ele. Nessa estreita travessia, um passo em falso leva ao abismo. À direita e à esquerda.

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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