Bolsonaro faz o que quer com o seu bolsonarismo. Caiado que lute

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Assim como o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, Bruno Peixoto, insistiu por meses, e ainda espera nos bastidores, ser o candidato a prefeito de Goiânia em outubro que vem, no partido e com a aprovação do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e este deu o tempo todo seguidas demonstrações de não querer, e até reprovar a pretensão, vemos agora o ex-presidente Jair Bolsonaro dar mostras claras e reiteradas de que não quer Caiado nem no PL, nem como seu candidato à Presidência em 2026.

O governador goiano tem feito o que pode pra ganhar Bolsonaro e conquistar o engajamento do bolsonarismo. Não é missão impossível, mas chega perto. Ter o respaldo bolsonarista é uma prova de obstáculos, daquelas que quando o incauto pensa que chegou ao fim, sempre surge mais uma barreira, feito infinita prova de fogo. Caiado tem legitimidade como político de direita, sua história prova isso. Bem antes de Bolsonaro, já estava na militância. No entanto, os tempos são outros. E a métrica ideológica de Bolsonaro não está nos livros, muito menos se edifica em coerência histórica.

Caiado é anti-PT mas apoia vacina contra COVID? Não serve. Defende o agro mas não condena o STF? Não faz parte da turma. Nessa toada, Caiado nem falou no evento pró-Bolsonaro por determinação do próprio: não é de confiança e poderia ser vaiado. Ainda que tão explícitos senões, Caiado se comporta como se tudo estivesse funcionando como planejado, e não se incomoda com o papel nacional secundário, embora acostumado a ser protagonista em Goiás. Está em busca do seu sonho e vale tudo. Vale o brilho do sol e a meia-luz individual.

Bolsonaro, ciente de sua pujança política e eleitoral nesta hora patriótica, faz o que quer com seus seguidores. Ora abraça um apaixonado olhando pra outro lado, ora mostra total enfado com o assédio que recebe, e, em geral, está sempre pronto pra dar um não como soco do Popó em Bambam – e, pra ele, todos são Bambam. Dessa forma, ele administra com determinação seu espólio, na convicção de que não precisa ceder, já que todos à sua volta dariam um fígado por um naco de apoio em sua voz.

Ninguém é mais cruel com seus aliados políticos e pretendentes a bolsomínions do que Bolsonaro. Sabe que não precisa de ninguém; os ninguém é que precisam dele; que está no alto do carro de som, não importa os humilhadas sem microfone e sem acesso. Os humilhados que se exaltem. E pouco importa se isso terá vida breve ou longa. Para ele, durará para sempre. Sempre que o mundo der cambalhota e lhe cair no colo, como agora, nessa conjunção de fatores favoráveis ao seu reinado com súditos tão dispostos a servir e servir-se aos seus propósitos.

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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