Briguento

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Às vezes fico pensando nas brigas em que me meti, as que comprei, as que lutei sem nem saber que estava lutando. Fico calculando inimigos que acumulei por precipitação, por incompreensão, por imaturidade. Não faço isso para lamentar ou chorando arrependimento no peito. Sei lá. Fico pensando no significado de tudo isso.

Jovem, eu era muito topetudo. Impetuoso e determinado, porque há também muita virtude nos defeitos da juventude. Nada menos que chutar a bunda do diabo e rebater a lista de pecados cara a cara com Deus me servia. Que redemoinho eu me imaginava, fico calculando agora. E era. Rodopiando quase sem sair do lugar.

Mas andei. E me pergunto: no que andei, evoluí ou só deixei a juventude para trás? No que avancei, para onde me levaram meus passos? Olho à minha volta, vejo os amigos que colhi, a família que construí, as vitórias pessoais e profissionais, e não há dúvida: caminhei o bom caminho, apesar de não controlar o meu destino. Porque nem tudo está virado contra a minha vontade. Tem isso, as minhas jabuticabas colhidas.

Você também pensa no que seria se não fosse o que é? Pode rir. Porque uma coisa que aprendi com o tempo foi exatamente olhar com graça tudo que me acontece, mais aquilo que acontece por si mesmo. Graça abençoada, graça cheia de risos e gargalhadas. Creio que um dos muitos milagres que recebemos ao nascer é exatamente este: viver sem riso momentos difíceis de nossa vida, rir depois dos tais momentos como prova de vida, e vida feliz.

Não deixei de brigar. Até porque o jovem que me habita, ou que habito sem dó, não me deixa viver de pensar. Não que eu viva sem pensar. É que, agora, percebo um velho mais velho que eu sou capaz de ser, e que só sou em razão da minha juventude em ebulição. De brigar por brigar, hoje brigo para vencer. E quando não consigo vencer, me dou por satisfeito ter brigado. Fico pensando: será que sou o único que defende a paz para os outros sem jamais a querer para si mesmo?

*Texto publicado pela Tribuna do Planalto

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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