O Executivo e o Legislativo estão se debatendo. Uma quase-guerra. Isso em Brasília, sem trégua. Mas também em Goiás. Na falta de oposição no Estado, esse confronto parece um respiro da democracia, embora o que se queira mesmo não é embate mortal, e sim debate vital. A sociedade agradece quando isso acontece, e com beleza que até rima.
O domínio que hoje o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) tem sobre a política goiana é fruto de um governo com avaliação alta, uma prática arrasa quarteirão e do vácuo histórico de lideranças, na transição entre a velha guarda – que tem em Caiado o último dos boiadeiros – e a nova, que nem mostrou a cara ainda. A renovação claudificante.
A confrontação partir de um aliado seu, eleito e reeleito presidente da Assembleia Legislativa com apoio de sua estrutura política, e integrante do partido que preside no Estado, o União Brasil, deixa tudo mais emocionante. E por isso desperta mais curiosidade. Bruno Peixoto está fazendo hoje o que nem Marconi Perillo, ex-governador desafeto de Caiado, consegue fazer. Sai na frente como líder promissor de uma possível ponta da tradicional polarização estadual. Ponto.
Porém, é preciso ir nas razões para que se entenda que não se trata bem disso – de ser, ao menos, arroubo de oposição e arrocho de nova liderança. Não é o presente, o passado ou o futuro de Goiás que move Bruno e Caiado. Não é propriamente a diferença de ideias, princípios e visões de mundo. Nem a fé. Os dois já estiveram em lados diferentes e, hoje, estão em igual legenda. Já foram aliado – Caiado – e adversário – Bruno – de Marconi, e agora inverteram as posições. Os dois brigam de verdade por outra coisa: poder.
Bruno está insatisfeito porque não é o escolhido do governador como pré-candidato a prefeito de Goiânia este ano. Caiado faz cara feia porque o deputado tem tido espaços políticos generosos ao seu lado e porque tem pesquisa que mostra que Bruno mais lhe daria desgaste do que o contrário, caso se candidatasse. No meio dessas contrariedades mútuas, vem outra coisa ainda: o projeto caiadista de disputar a Presidência da República – e para isso, entre outras razões, quer eleger o prefeito da Capital, e o projeto brunista – dele e de aliados – de ampliar o poder da caneta, com um orçamento várias vezes maior que o da Alego.
O governador enviou sinais e, depois, tratou ele próprio de avisar Bruno que não o apoiaria. Inconformado, o deputado primeiro indicou obedecer a voz de comando, mas então passou a dar mostras reiteradas de desobediência explícita. A ele e a seu vice, Daniel Vilela, que é também presidente do MDB. Neste Carnaval, Bruno acampou no ninho inimigo: a casa do senador Wilder Morais (PL), assim como Daniel, pré-candidato a governador em 2026 – Daniel como provável candidato à reeleição, com a anunciada renúncia de Caiado marcada para abril daquele ano. E o pai de Bruno, Tião Peixoto, continua mandando recados para o governador, duros e engraçados.
No que se refere a Wilder, um adicional de periculosidade: Caiado trabalha para ter o apoio do PL (ir para o PL, quem sabe?) à sua candidatura presidencial, e com isso cresce a especulação no Estado de que ele pode lá na frente inclusive deixar de lado o apoio a Daniel ao governo para abraçar Wilder, desde que a recíproca seja verdadeira: o senador abraçando com paixão o seu sonho. Em resumo: Caiado e Wilder podem fazer um bem-bolado, ficando Daniel na sobra. As especulações, com o novo capítulo de Bruno na trama, ficam assim mais apimentadas.
Pior: está sendo creditada a Bruno uma ação da Polícia Civil apurando possíveis irregularidades em contas do ex-prefeito de Trindade, Jânio Darrot (MDB mas indo para o UB). Darrot é simplesmente o nome escolhido pelo governador para disputar a prefeitura de Goiânia, lembremos, sonho do deputado. A briga tá feia e tem gente comprando pipoca e encomendando suco de jabuticaba para a batalha que se avizinha. Todos que conhecem Caiado sabem que ele dá uma boiada pra não sair de uma boa briga; todos que conhecem Bruno sabem que em matéria de coragem, ele não tem limite, e isso é de família.
Caiado e Bruno têm muito a perder. Um controla o Executivo até abril de 2026, e o outro, controla o Legislativo até dezembro de 2026. Pense. E a ganhar, com essa refrega, eles têm? Neste momento, Bruno não tem o apoio de Caiado para ser prefeito, e está amarrado ao União Brasil pra tentar candidatura em outra legenda – para ele, não há janela. E Caiado passa a contar com um desgaste interno, em Goiás, se não virar oposição. E segue sem candidato a prefeito de Goiânia, visto que a candidatura Darrot bateu na parede. Fortes emoções. Quanto a Goiás, é pagar para ver. Quem sabe, pelo menos, o espetáculo valha o ingresso. Olho no lance!
*Texto publicado pelo Diário de Goiás