Castelos eleitorais

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Colega vigiando colega pra ver se não está com o adversário. Amigo pressionando amigo a acompanhar seu apoio. Inimigo xingando inimigo como se o seu apoiado não merecesse reparo algum. Debates e embates calorosos na redes sociais – antes eram nas esquinas – como se fossem decidir a guerra do fim do mundo. Eis, em síntese, o ambiente eleitoral de hoje, ontem e inevitavelmente amanhã.

O tempo passa e as campanhas políticas continuam numa boa em sua desenfreada rota de fuga da realidade. Pra quem está envolvido, é caso de vida e morte. Pra quem está de longe, tudo não passa de uma acalorado e divertido parque de diversões. Em Goiânia nada há de novo que não seja a velha história da disputa que leva menos em conta as propostas e mais em alta a capacidade de ver defeitos no adversário.

Mas há um elemento novo no front. Está em curso o desenrolar de uma rearticularão das forças políticas no Estado, o que começou com a derrota do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) para o Senado e se consolida agora com a aposentadoria do prefeito Iris Rezende (MDB). Sem Marconi, o grupo que o rodeava já se alastrou por todos os lados, inclusive para o emedebista. Sem Iris, o MDB será outro, com vitória ou não nesta eleição.

Muito de fala em política diferente este ano. De fato, há elemento novos, como a dificuldade de se colocar o chamado bloco na rua, para pedir voto, em razão da pandemia. E como a onda de moralidade, que tem esse nome mas não se escora na prática, e aí fica o dito pelo não dito, sem ninguém saber de verdade o que fazer e como se comportar. No mais, o que mudou? O eleitor? Ele está mais consciente ou menos? E o que isso quer dizer? E os políticos, aprenderam a lição? Mas que lição?

Na prática, não estamos vendo nada que não se tenha visto. Os programa eleitorais seguem o roteiro das propostas e das críticas. Pandemia à parte, a carreata não para, a caminhada não muda, a agonia dos pediformes de voto e a apatia dos votadores assediados caminham na mesma toada. Os comícios mudaram aqui e ali, mas não mudaram em nada de fato. A dúvida que persiste, se o eleitor irá ou não às urnas, nem é algo que preocupe, porque o ritmo está tão no mesmo compasso de sempre, que o mais provável é que até o dia das urnas o clima seja não a estranheza que se imaginava há alguns meses, e sim a balbúrdia que se conhece bem bem demais da conta.

As paixões afloradas são risíveis para quem está na arquibancada como aquele filme que vale a pena ser visto de novo. Tudo passa. Os apaixonados de agora serão, em sua maior parte, os decepcionados de amanhã, ainda que ganhem, porque nem todos que ganham governam de fato. Os candidatos precisam dos soldados rasos de agora para poupar os generais que vão mandar depois. Elementar. Faz parte do jogo. É pegar ou largar. É ter fé e mover montanhas em busca de um horizonte pra chamar de seu.

Depois da guerra eleitoral destrói valores. Para uns, é conquista de poder. Para outros, apenas a efêmera vitória de quem reina na praia, construindo castelos de areia.

*Publicado primeiramente em Diário de Goiás.

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