Dia desses comemorei mais um aniversário. Oitenta cravados. Caminhada longa. Mas sem vislumbrar a reta final. Tem gordura pra muito tempo ainda, apesar dos contratempos da saúde.
Nos tempos da infância eu gostava de subir em árvores. Grandes ou pequenas, não escolhia o tamanho. Tinha uma facilidade muito grande para escalar árvores gigantescas. De lá ficava um tempão espiando o norte e o sul, o leste e o oeste, apreciando o mundo que me era dado enxergar. Olhos fixos projetados ao longe, enquanto as vistas davam. Observava tudo que se fazia disponível à minha volta, até o limite do horizonte distante. E ficava ainda me esforçando para que os olhos alcançassem além dos montes mais longínquos.
Lá no topo da minha torre de babel, acima de tudo e de todos e vendo a terra aos meus pés, eu me sentia poderoso e sonhava, divagava, fazia planos. Imaginava ser tanta coisa na vida!… Não me lembro bem o que desejava ser. Só sei que dali das alturas, trepado lá nas grimpas, eu tinha o mundo sob o meu domínio. Vinha forte a ânsia de abraçar o universo, de vencer na vida, de ser maior do que a minha insignificância. Em suma, recordo-me de que dali de cima, apoiado na autossuficiência das minhas fantasias infantis, eu sentia o mundo se tornar pequeno para as minhas não parcas ambições.
Hoje, transposta e superada a escalada ininterrupta da vida, do alto da minha ainda não combalida árvore do tempo posso vislumbrar os horizontes de um passado que se fez paulatinamente, sem pressa, sem atropelos e sem invadir a seara dos direitos do meu semelhante.
Construí amizades sólidas e fiz-me relacionar com gente de todas as camadas sociais e defensoras dos mais diferenciados princípios, respeitando e admirando todo ser humano que cruzou o meu caminho, sem distinção de raça e de cor, de credo religioso, de posição social e de condição econômico-financeira.
Nessas alturas dos acontecimentos, pressinto ser inevitável uma indagação, que faço de forma introspectiva, frente a frente com o meu passado, olhos nos olhos: os sonhos de menino foram realizados? Antes de buscar a resposta ou as respostas, vejo ser imprescindível refazê-la: os sonhos que sonhei ao longo da vida foram realizados?
O motivo de alterar a pergunta é que, após o período da infância, em que os valores e consequentemente as aspirações humanas acabam sofrendo transmudações de forma natural e sistemática, jamais parei de sonhar. Os sonhos continuaram fluindo normalmente desde que me entendi por gente, sonhos que já não eram mais sonhos de menino, mas de gente grande que muitas vezes se sente na contingência de repensar as suas atitudes, de corrigir desacertos e de reconstruir ou redirecionar os seus mais audaciosos projetos.
Por esse motivo decidi parar tudo, interromper a minha caminhada que inaugura a trilha octogenária, para apossar-me novamente da minha inseparável árvore do tempo.
Logicamente a visão não será a mesma de antes, pois enquanto naqueles tempos idos o pensamento era encaminhado para frente, rumo ao futuro, num multiplicativo de sonhos tão acelerado que provocava ansiedade e aguçava os batimentos cardíacos, hoje as atenções ganham caminho inverso e uma tonalidade de reflexão, quando volvo os olhos em direção ao passado, para reencontrar os meus sonhos, tanto os acalentados quando criança quanto os que foram concebidos durante o enfrentamento paulatino do dia a dia, nesses acumulados dias, meses, anos e décadas de passagem por este mundo de meu Deus.
Por falar em Deus, jamais me dei o direito de iniciar qualquer atividade, inclusive a de escalar incessantemente a minha árvore do tempo, sem antes agradecer ao Criador por tudo que me foi concedido no transcorrer dessa aventura maravilhosa e divina chamada vida. Concessões essas, diga-se de passagem, que me foram dadas sem que eu merecesse, como, por exemplo, transpor os oitenta anos de existência, façanha que não é disponibilizada a todos os viventes; como também a graça de usufruir de uma vida saudável, em que a alegria sempre venceu a tristeza; e mais, vencer os tropeços e os sofrimentos, que tanto me fizeram aprender e crescer como criatura; mais ainda, conviver humildemente com as alternâncias dos fracassos e das conquistas experimentadas no correr do tempo; finalmente, ter forças para superar as desilusões e buscar as necessárias e imprescindíveis retomadas de posição, que sempre me recolocaram no embalo da minha caminhada e no embate da luta pela sobrevivência.
Sobre o hábito de ler e de escrever… Declaram com propriedade os sábios que a boa leitura é muito importante, não só para aprimorar os nossos conhecimentos como também para a boa comunicação com as pessoas do nosso convívio familiar e social. A habitualidade da boa leitura é indispensável para uma eficiente formação educacional, além de desempenhar importante papel na saúde física, mental e emocional. A leitura tem o poder de exercitar o cérebro, preservar a memória na labuta diária e estimular a imaginação, ajudando a desenvolver a inteligência, o raciocínio e a concentração. Esse hábito é um dos segredos para manter uma mente sempre jovem e ativa. Dessa forma, com a prática regular desse exercício mental é possível alcançar a longevidade com mais saúde. A propósito, você tem o costume de ler? Por que não começar agora?
Na velhice, em que muitas das vezes a pessoa permanece em casa, sem muita coisa que fazer, de cedo até a noite, dia após dia, a dica é dedicar-se à leitura. Simplesmente ler. A boa leitura não só ajuda a passar o tempo (ou aproveitar o tempo), como também faz bem à saúde, além de ampliar os conhecimentos. É, sem dúvida, o melhor remédio para alcançar a longevidade com mais disposição e melhor qualidade de vida. Portanto, leia bons livros!… Leia sempre!…
E para quem gosta, é o momento de aproveitar o tempo para escrever alguma coisa que está impregnada na alma e que precisa botar pra fora. É bom escrever as nossas opiniões, os nossos conceitos, reclamar da vida, contar casos e agradecer as graças recebidas… Enfim, é muito bom escrever.
Nas horas vagas, tenho me dedicado à leitura e à escrita. Já faz tempo que escrevo alguma coisa. Escrevi contos, romances, crônicas, religião, historiografia e literatura jurídica. Foram quatro os livros jurídicos publicados. Literários foram dezoito. Um deles, o romance Maria da Glória na Festa do Engenho Velho, está alcançando boa aceitação e vendagem não só no Brasil como em Portugal.
Nesses últimos, está incluso o livro: Em Busca dos Meus Vestígios Existenciais – Uma história de vida. Trata-se da exposição e de tornar público as minhas memórias. Coisas assim muito íntimas, que não deviam merecer, talvez, nenhuma publicação. Inclusive, logo que enviei a formatação para a editora, recuei e decidi não publicar. Porém a minha amiga Izaura, da R&F Editora, a quem agradeço pelo empenho em tornar públicos os livros que escrevo, me convenceu a não desistir.
O livro conta a história singela de um menino que nasceu e cresceu no interior. São as minhas memórias, sem a pretensão de que possam ter alguma serventia ou utilidade prática para alguém. Talvez tenham sido escritas para a satisfação de uma única pessoa: a mim próprio. O livro conta a minha história!…
Caso o leitor, por curiosidade, seja movido por algum interesse de adquiri-lo, o livro pode ser encontrado na R&F Editora, Rua C-134, 168, esquina com C-146, Qd 272, Lt 12, Jardim América, Goiânia-GO, CEP 74.255-480, fone (62) 3281-5452 – www.rfeditora.com.br.