Eu e Jesus somos muito amigos

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Eu e Jesus somos muito amigos.

Ele não se importa, por exemplo, que eu diga “eu e Jesus somos muito amigos”.

“Se fosse eu falando, diria ‘eu e o Vassil somos muito amigos'”, explicaria ele, com ar natural de quem vive nas alturas e sabe viver lá.

“Não mereço tanto, amigo”, costumo falar, esforçando-me para não parecer irônico (ah, essa humana mania de grandeza!). Porque é sincero. Não mereço vir antes de ninguém, quanto mais de quem estamos falando.

Falo isso para ele, com ar compungido de quem vive ao rés do chão e sabe como é viver aqui.

“Meu grande amigo, atente para o sinal dos tempos. Se eu fui enviado para cá, foi porque o Pai Nosso entende que você, inclusive, vem em primeiro lugar em seu coração. E Ele está certo, sempre está?”, insiste Jesus, meu amigo, com toda calma possível só a quem não é deste mundo – quer dizer, possível só a quem está além deste mundo, como ele.

“Ou você acha que não, que Ele está errado?”

Ele fala com cara de quem é, sim, deste mundo, me olhando deste lado.

Claro que ele está muito acima dessas humanidades, mas imagino que foi irresistível a tirada, porque ser cruel, porém com carinho, muitas vezes é inevitável. Se levantam a bola, como não chutar?

Eu entendo, Jesus já esteve aqui. Sabe o que faz.

Eu e ele conversamos muito.

Há décadas ele tenta me fazer entender certas coisas.

Não entendo quase nada, mas não desisto; ele, muito menos.

Fosse eu, já teria me deixado falando sozinho faz tempo.

Tropeçando daqui e dali, vou seguindo.

E ele insiste, persiste, suspira, resiste, dá de ombros (ou de asas) quando ignoro por completo conselhos seus, e segue também seu caminho.

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