Já podemos falar dos filmes de Natal?
Ando aborrecido com a Netflix porque basicamente zerei o estoque deles de filmes românticos e ternos natalinos e a reposição de estoque é lenta e pequena. Precisamos de mais histórias edificantes e finais felizes, com família complicada confraternizando e aquela gostosa sensação de que o mundo tem salvação, que sabe a humanidade também.
Sou um procurador juramentado de histórias edificantes, bonitas. Não me contento com essas que a gente de vez em quando vê ou lê, como quem tropeça numa rosa fora do jardim. Eu vou atrás. Me deleito em procurar e me realizo em encontrar. Como um alimento para o espírito. Guardo todas elas pra mim. Sou egoísta na hora de abastecer o coração com alteridade e magia cotidiana. Trata-se de minha sobrevivência espiritual, psicológica, cíclica.
Os filmes de Natal me curam de desesperança. E, convenhamos: como é bom sentar diante da TV, beber algo com calma, esquecer o celular, e ficar ali, por uma hora e meia, tomando pelos olhos, como uma veia direta para o coração, apenas imagens de uma vida que vale a pena. Mas isso não é fuga? Que seja. Ou você nunca deu uma fugidinha sapeca, telúrica, romântica, e depois passou horas, semanas, rindo sozinho ou sozinha, entredentes?
Em outros canais também há filmes sobre o Natal. Sei disso. Quando citei a Netflix, quis dizer que já basicamente zerei o que há de bom e ruim pra ser visto. Fico carente se não posso sentar na minha cadeira do papai – melhor presente que ganhei dos meus filhos – e ficar lá, embevecido, chorando em momentos felizes. Ocorre de eu dormir no meio das histórias, mas tranquilo, porque sei que elas continuam lá, no dia seguinte eu é que vou continuar a vê-las, inevitavelmente.
Durmo sonhando com o amor que recebo direto e bem fundo, tão além da superfície destes tempos. Respiro esse sonho reparador, e sei que é isso, a vida tem realidade, mas tem sempre a viagem que fazemos às utopias pessoais. Ninguém precisa voar nessas hitórias que vejo, porque eu voo, transcendo, e é exatamente essa epopéia, esse épico homérico que escrevo a cada sentido que absorvo que me mantém são.
Não fosse isso, eu já teria me transformado em nada mais que um homem triste, sem céu e sem medo do inferno da vida comum.