Corre a lenda que Goiânia é oposição. Ou seriam os fatos históricos?
Levantamento do jornalista Eduardo Horácio, publicado no Poder Goiás, mostra:
“Apenas nos dois primeiros pleitos o goianiense elegeu um prefeito apoiado pelo governador: Daniel Antônio (em 1985), apoiado pelo então governador Iris Rezende, e Nion Albernaz (em 1988), apoiado por Henrique Santillo. Ainda assim, ambas as vitórias foram apertadas diante dos adversários Darci Accorsi e Pedro Wilson, respectivamente, com margem inferior a 5 pontos porcentuais”, anota Horácio.
O governador Ronaldo Caiado comprou o desafio de quebrar a sina e está jogando no ataque para eleger o prefeito de Goiânia em outubro. Mas, caso o seu candidato não vá para o segundo turno e, no segundo, Caiado apoie outro nome, e este então ganhe, poderá ele dizer que fez o prefeito e desfez a lenda?
Jogando para ganhar foi que Caiado definiu o perfil do candidato, que pescou em pesquisas qualitativas, antes até de ter o nome ideal. Teria que ser alguém com qualidade de bom gestor, em resumo. O chapéu não cabia em Bruno Peixoto, presidente da Assembleia Legislativa, mas cabia em Gustavo Mendanha – ex-prefeito de Aparecida, impedido de ser candidato pela regra eleitoral, e coube no empresário Sandro Mabel, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg).
Mabel contará com o governo bem avaliado e um governador que chegou a 86% de aprovação em recente pesquisa Genial/Quaest. De embrulho, vai também o MDB do vice-governador Daniel Vilela. E vai ainda uma questão de fundo que tem peso nacional: ganhar em Goiânia aumentará o cacife da imagem de Caiado como pré-candidato a presidente da República.
Só que Goiânia mostra que tem tendência grande hoje para o voto bolsonarista, que recebeu mais votos que Lula na eleição passada. E segundo apuração do Instituto Goiás Pesquisas, publicado no Mais Goiás, Bolsonaro influencia mais do que o governador no voto do eleitor goianiense. Em números: 40,68% disseram que com certeza votariam em um candidato indicado pelo ex-presidente, e 33,01% em um indicado por Caiado.
Ocorre que Caiado e Bolsonaro não são propriamente adversários. Há inclusive uma tentativa, da parte de Mabel, de puxar o PL para a sua vice. Hoje, o candidato a prefeito do bolsonarismo raiz no Estado é o deputado federal Gustavo Gayer.
No estilo Bolsonarista, mas nem tanto, há na disputa ainda o senador Vanderlan Cardoso, do PSD. Vanderlan, que flertou firme com o PT, segue seu curso em voo solo, mas flertando agora de leve com Mabel.
Em um segundo turno sem Mabel, Caiado o apoiaria, se do outro lado estivesse o nome que mais se opõe a todos até aqui (no caso de Vanderlan, em tese): Adriana Accorsi, do PT?
O PT já ganhou do MDB e do PSDB no governo, com Darci Accorsi (1992), Pedro Wilson (2000) e Paulo Garcia (2012). PSDB hoje é oposição. Mas o MDB está lá, na vice de Caiado.
Neste caso, podemos dizer que Goiânia, para ser oposição, elegerá Adriana Accorsi? Que Caiado ganha com qualquer dos outros três nomes citados ou com um outro, inclusive do PSDB, que for para o segundo turno e ele apoiar? Nenhuma das alternativas?
E convenhamos: Goiânia é tão ideológica assim para passar como oposição? Ou só é do contra? – só é conservadora, mas nem tanto e nem sempre?
E voltamos ao ponto: para ser oposição e seguir a lenda, ideologicamente ou não, contra quem Goiânia estará desta vez?
Até considero outra hipótese: a verdadeira lenda ser a lenda.
Antes que eu escreva que há mais estrelas no céu que nossos olhos podem ver, peço ajuda aos universitários. Bem que o mestre e doutor Luiz Signates poderia pensar alto sobre tão subida questão pra gente ouvir, né.
Enquanto isso, façam suas apostas. Mas lembrem-se: esse jogo vicia.