Moral de candidato e de eleitor

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Vale tudo na eleição (política), só não vale perder. Nesta conhecida frase, temos uma verdade e uma realidade, só não temos uma mostra de hombridade. Ninguém brinca de fazer campanha na base ‘não importa ganhar, tem que participar’. Ninguém quer perder.

Quando um candidato entra numa disputa, só pensa em vencer. Uns até sonham e planejam as vinganças e defloramentos morais que farão depois. Vencer a qualquer custo é o que testa o limite do cidadão.

Vai ultrapassar a margem de erro dos ataques e contra-ataques e partir para o tudo ou nada, ou respeitará as regras do jogo e os princípios e virtudes humanas que vêm de berço ou foram acumulados com a sabedoria do tempo?

Já vi muito cidadão tido e havido por seus pares e por si mesmo como de boa índole, descer aos infernos das inconsequências ao menor sinal de que será derrotado. Bastou uma faísca para pegar fogo e virar labareda dos infernos.

As razões para agir e reagir batendo acima da cintura são muitas.

‘Foi o outro que começou’, é uma delas. Como se no meio de uma briga de rua fosse possível estabelecer quem cuspiu primeiro – e como se isso importasse no meio da confusão.

Outra: ‘estou só me defendendo’. Essa é uma das minhas preferidas. Quando o candidato ou sua equipe chega nesse nível é porque não dá mais pra definir o início e o fim. O infinito em todas as direções vem na base das balas perdidas. E deus salve!

Tem mais. Já fui longe demais, não dá pra recuar. Nunca dá pra recuar quando não se quer recuar. Isso. Falta só mais um pouco, aí a gente para. Boa razão, também. Cabe dizer que nesse ponto a campanha já tomou gosto pela maldade. Não tem volta.

São as bravatas emocionais, as desculpas pra capiau ver, as conversas afiadas em pedra lima das boas. Como andar de canivete na cintura: chega aquela hora em que faz parte do corpo, não tem como separar.

Canivete é uma das maiores invenções da humanidade que corta para os dois lados da moralidade. E quem atira a primeira pedra?

Nem se trata disso, porque a gente mesmo, a gente nunca conhece nos limites e nos entremeios. No nada.

Você se garante íntegro e inteiro na beira do abismo eleitoral? Entre morrer e matar para conquistar um mandato ou não perder uma prefeitura, ou governo, ou emprego, ou o prazer da vitória, até onde você está disposto a ir?

Quem jura que não fará a escolha que renega em princípio, dificilmente viveu tal situação. Se viveu e resistiu, o céu é o limite. Deus cuida. Raridade, mas realidade também.

Perguntinha simples a você, eleitor: promete não negociar seu voto e colocar na urna o que pensa ser melhor para o povo, em vez do melhor para seus interesses?

Quero ver. Porque o candidato quer ganhar. O candidato tá pensando nele. O candidato não vota em você. Ele quer o seu voto. Quer quanto?

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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