A relação titular-vice, sobre a qual tenho falado aqui, tem funcionado bem, à parte toda a expectativa de que, com o tempo, os dois protagonistas se desentenderiam fácil, dadas as diferenças políticas que os marcam: o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e seu cara-metade na gestão, Daniel Vilela (MDB).
Essa química tinha tudo pra dar errado, mas deu certo até aqui. E muito porque Daniel entendeu uma questão básica. É ele que precisa se moldar a Caiado, e não o contrário. O governador tem o comando e a autoridade das urnas pra tocar a administração como entender ser adequado. Ao Daniel cabe colaborar e esperar. E está fazendo isso.
A confiança é estabelecida nas pequenas coisas. Um vice que não cria problemas para o governo é um vice que pode ser chamado de parceiro, é um político inteligente. Caiado sabe dos interesses de Daniel, que não ignora as nuances da ação política de Caiado. Nesse bem-bolado, há espaço pra Daniel assumir várias vezes como titular, e tranquilidade para o governador viajar e tocar seu projeto político pessoal sem receio de bola nas costas.
Daniel é um vice com poder por razões pragmáticas. Ele tem a perspectiva de poder para 2026, quando assumirá com a renúncia anunciada de Caiado, e tem desde já o respaldo do governador. Sem avançar o sinal, Caiado mantém sempre o sinal em verde pra ele. As intrigas internas se mantêm, assim, em estado de riacho sem queda. A água não tá parada, mas também não está fora de controle.
Porque intriga e poder não se separam. Uma e outro estão sempre juntos e misturados. Caiado sabe que tem a caneta; Daniel age como quem sabe que não a tem. Ambos, no entanto, calculam o futuro na medida de suas possibilidades e da realidade que os contém – sim, não são donos, sozinhos, do jogo. Logo os papéis vão se inverter. Aí será outra história.
Caiado não será vice. Mas Daniel também não será governador pleno. Caiado quer ir mais longe. Daniel terá seis meses para ganhar mais quatro anos. Um faz o outro mais forte.
*Texto publicado pela Tribuna do Planalto