Afinal, o que é a morte? Enigma indecifrável? Com a morte tudo se acaba? O que será ou o que virá depois que esta vida chegar ao fim? A vida eterna é real? Por que a criatura humana não é eterna? Ou é?…
Verdade que a morte é um fato, não mera possibilidade da qual se cogita ou tese defendida por célebres estudiosos e cientistas. É acontecimento real sobre o qual não incide dúvida alguma. Somos mortais. Ninguém ficará para semente, embora as sementes semeadas por cada um permaneçam vivas, para apreciação das gerações.
Verdade que a morte poderá acontecer a qualquer momento, quando menos se espera. É determinação do próprio Deus ao homem: “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar” (Gn 3,19).
Depois da morte, independentemente do estágio espiritual que se conseguiu alcançar enquanto esteve no mundo, o ser humano terá acesso novamente à vida terrestre? Haverá chance de voltar aqui e viver nova vida? Há os que acreditam que sim. Contudo, este texto foi desenvolvido por quem acredita que não, guardado o profundo respeito por todos os que professam outros credos e defendem ideias contrárias.
Assim, cada qual é apenas uma única pessoa com uma só alma, um só corpo, uma única história, uma única eternidade. E na ultrapassagem desta para a outra vida, ninguém poderá se dar ao luxo de ser acompanhado por quem quer que seja e muito menos enviar notícias para os que aqui ficaram.
Tem-se, pois, que a morte não é nenhum enigma indecifrável e a eternidade faz-se real. Segundo os ensinamentos bíblicos, “Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza. Foi por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio a provarão” (Sb 2,23-24).
Por outro lado, acredita-se que, tendo em vista que muitas fragilidades humanas talvez impeçam a imediata acolhida do falecido na vida da graça, salutar se torna o oferecimento de sufrágios, preces e sacrifícios dos irmãos vivos, para que, o quanto antes, lhes resplandeça a luz da bem-aventurança. Este é o propósito da celebração do Dia de Finados.
O Dia de Finados é celebrado pelos católicos em 2 de novembro de cada ano. Esse costume vem desde o século II da era cristã, quando alguns cristãos visitavam os túmulos dos mártires e intercediam pelos que tinham morrido.
No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém se lembrava. No século XIII o dia anual passou a ser celebrado em 2 de novembro, por causa da Festa de Todos os Santos, comemorada em 1º de novembro de cada ano.
A doutrina católica evoca algumas passagens bíblicas, para fundamentar sua posição: a) Na manifestação do anjo Rafael, no Livro de Tobias (12,12); b) Por ocasião das provações de Jó, no Livro de Jó (1,18-20); c) Quando do sacrifício pelos mortos, no Segundo Livro dos Macabeus (12,43-46);f) Quando Mateus discorre sobre o pecado contra o Espírito Santo (12,32).
Além disso, os ensinamentos do catolicismo apoiam-se em uma prática bastante antiga, que ultrapassa a marca dos dois mil anos. E é verdadeiramente gratificante. Enchem a alma de contentamento e plenitude o gesto oracional e a intercessão pelos entes queridos e amigos falecidos. Inclusive, fazem um bem enorme à conversão pessoal e à aproximação a Deus.
Sobre finados, no entanto, o Papa Francisco faz algumas advertências. Disse o Pontífice em um de seus pronunciamentos, no Vaticano: “O Ser humano é estranho… Briga com os vivos, e leva flores para os mortos; lança os vivos na sarjeta, e pede um bom lugar para os mortos; se afasta dos vivos e se agarra desesperados quando estes morrem; fica anos sem conversar com um vivo e se desculpa e faz homenagens quando este morre; não tem tempo para visitar o vivo, mas tem o dia todo para ir ao velório do morto; critica, fala mal, ofende o vivo, mas o santifica quando este morre; não liga, não abraça, não se importa com os vivos, mas se autoflagela quando estes morrem… Aos olhos cegos do homem, o valor do ser humano está na sua morte e não na sua vida. É bom repensarmos isto, enquanto estamos vivos!”.
O certo é que o Dia de Finados é o dia das lembranças dos nossos entes queridos que já foram para a eternidade; é o dia das lágrimas derramadas por força da saudade mais penetrante; é o dia das orações mais fervorosas em forma de intercessão a Deus pela alma das pessoas que fizeram parte da nossa história e nos proporcionaram alegria, carinho e amor enquanto estiveram conosco; é o dia propício para pensarmos mais seriamente na nossa conversão. Não resta dúvida de que se trata de uma data muitíssimo especial para todos nós.
*Texto publicado pelo Diário de Goiás