O inferno da brasilidade

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Os que gritam defender a Pátria desmoralizaram o conceito de defesa da Pátria. Os que dizem defender, ameaçam a Constituição da Pátria: anunciam em alto e estridente som que eleição boa, só a que ganharem, e Constituição ótima, tão somente a que interpretam. Sabem ler, mas preferem fazer crer; têm consciência do que é obedecer, por isso conjugam mandar.

São eles aqueles que advogam pelo retorno ao voto de papel, abandonado principalmente por ser sinônimo de trapaça e manipulação, tergiversando que se trata de subida questão intrínseca à soberania nacional. Eles são os tais que defendem a liberdade de si próprios contra a liberdade de mim mesmo. Ou seja: eles podem sim, eu posso não; eles podem escrever não, eu posso, sim, bater continência. Sen-tido?

Os que governam em nome da família dividem famílias ao pregar verdades suas definitivas versus mentiras pecaminosas dos outros parentes que não concordam com eles. Também eles são os que promovem a discórdia nos grupos de conversa, nas redes, nos quintais, defendendo o mito de sua devoção em contraponto ao ponto de vista e à opinião dos irmãos e primos de sangue. Só veem amor onde há submissão ao seu ódio de estimação.

Olhe para o lado. Veja como estes que se julgam as gentes de bem, não são capazes de ver bem, de ver bem onde não há concordância com o seu bem viver em um mundo que sobe a gasolina, sobe o gás, sobe o arroz, sobe a carne, sobe o custo da morte, porém em nada sobe o reconhecimento de que este é o novo mundo que elegeram. Mais que tudo, combatem os fatos com a ilusão de outro mundo, um mundo cheio de uma ideologia esquerdista maléfica e mortífera que não resiste a uma conferida no VAR da realidade.

Não sei onde estou com a cabeça, porque diante desses virtuosos homens e mulheres que discordam de mim, não tenho cabeça. O que tenho é a caveira do insensato ser que acredita no amor ao próximo, na comunhão dos ideais diversos, no livre pensar, no respeito é bom e a gente merece, nas leis e deveres dos cidadãos (em princípio e até que se prove o contrário, são sempre de bem), na defesa intransigente dos direitos humanos como são (longe do que pensam), e que jamais vai desistir de quem é, dos outros e da sua velha e boa fé.

Os que se promovem melhores que os demais, como se ungidos pelo beneplácito divino da salvação do povo acima de tudo e do País acima de todos, estes são aqueles que lutam para serem vistos como não são: humanos, demasiado humanos. Não fomos nós, os que discordamos deles, que bagunçamos o Brasil.

O que está fora do eixo não é a corrupção alheia ou a vitória em plebiscito do desarmamento coletivo em nome de uma sociedade em paz. O que não combina com nada é a arma em defesa do amor, é o racha do salário comprovado como se não existisse, é o reincidente discurso de ameaça e guerra declarada, é o desprezo à vacinação e acolhimento dos enfermos frente a corrupção armada dos militares militantes nas negociatas de bastidores, e é a pouca vergonha de desrespeitar os mortos como se não passassem de efeito colateral de seus interesses privados nos cargos públicos.

Convenhamos: os homens e mulheres que nos governam em nome de Deus e da Pátria, essas vestais pavoneadas do Planalto, não são os eleitos dos céus; são os que já colocaram os canhões da pragmática reeleição do Poder tomado nas ruas. Nada mais são do que a prática daquilo que alardeiam não ser: raposas em pele de cordeiro. Convenhamos: vendem os céus enquanto chafurdam numa hipocrisia dos infernos. Assim caminha a brasilidade.

*Publicado primeiramente em Goiás Notícia.

5 COMMENTS

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