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O recado vai para quem sabe quem na eleição em Goiânia

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Recado de quem sabe quem para alguém que sabe quem. Nas quermesses o simples aviso no microfone já abalava as estruturas emocionais das e dos adolescentes. Nos adultos, o efeito era outro: a agonia com o que poderia vir lá. Uma diversão das melhores, os recadinhos de amor e curtição nas noites de festa da igreja. Tudo abençoado pelo padre. A fofoca que saía no microfone e a que corria solta entre os meses era de sacudir a cidade.

Essa inocência ainda existe. No interior, as brincadeiras de vez em quando superam as maledicências. Em Goiânia, há quase nada disso. Na periferia ainda se vê, mas é exceção. Onde viceja com força isso vai para quem sabe quem é na política. Aqui e acolá o que mais se observa e se propaga é o recado subliminar, a mensagem por trás do fato. Mesmo quando não há nada. Passa a ter. Tudo vira conspiração.

Na grandeza, um político evita citar o nome do adversário mas não deixa de cutucá-lo, provocá-lo. Cabe ao bom entendedor ligar os pontos, ou ao veículo mostrar as questões envolvidas. Na miudeza, um político vai lá e emplaca um Fulano, vai passar o fim de semana com Sicrano, adversário de Beltrano, que é ligado a Fulano e já está fulo da vida com Beltrano. E agora, Beltrano e Fulano vão romper?

Sem fulanizar, por favor, pedem alguns. E vão. Há mobilização no funilanizamento. A miudeza agrada a turba, gera envolvimento, faz a pitada de crueldade ou patada de ataque ou contra-ataque corra mais rápido e se alastre. É o bom e velho engajamento de corredor de colégio. Quanto mais baixaria, mais elevada será a audiência. Mostra o tamanho minúsculo do recadeiro, mas arrebenta na audiência.

A relação entre os governistas em Goiás, no que se refere à definição do nome do candidato a prefeito de Goiânia, está no nível de quermesse. Ora um diz pro outro, sem aparecer, que o outro está usando a máquina, ora o outro devolve com escancaramento de uso da máquina feito pelo um. Nessa toada, vamos – nós, a plateia – conhecendo as entranhas de lado a lado e de todos os lados que surgem aos poucos.

A torcida passa a ser não para este ou aquele, mas para o locutor botar mais lenha na fogueira das vaidades políticas e humanas. Quem contrata mais parentes e quem contrata mais parentes cruzados de aliados de ambos os lados que de repente se veem no meio do fogo cruzado? Quem tem as costas mais protegidas, é quem pode atirar pedras à vontade nos colegas sem se preocupar com as próprias linhas de defesa moral e sem ter um pecado social e não-republicano com que se procurar?

Quem sabe quem sabe que ninguém é santo e que não existe crime perfeito. Quem sabe quem sabe que quem arrota santidade é anjo sem auréola. Quem não sabe que quem acusa tem telhado de vidro e pode a qualquer momento vai em desgraça. Quem sabe os arautos da verdade única não são apenas os ingratos e próximos na linha de sucessão de fatos para os quais terá de parir explicação por simplesmente não terem explicação alguma?

Está dado o recado, dirão muitos, ao lerem o que vai aqui? Recado de quem? Para quem? Recado mesmo ou galhofa? As teorias da conspiração não permitem que um A, que seja, não tenha dono. Não deixam que uma vírgula fique fora do lugar. Quem sabe quem não sabe tudo, e então também fica com uma leve coceira atrás da nuca. A mando de alguém, por razões que todos sabem, em virtude das ligações e dos interesses, nada é gratuito. Tudo é parte de um todo do qual ninguém dúvida.

O locutor da quermesse não sabe o que é fogo amigo. Ele lê, solta no ar a mensagem. Se tem gente infiltrada para torcer e distorcer o quem sabe quem; se a letra lida contém bomba de efeito retardado; se aviões de carreira estão despejando cacas na moleira de desavisados; se a contra-espionagem tomou conta dos bunkers; se já era e não tem volta a parceria política; se acha que não vem mais turbulência por aí, e que as balas acabaram; se você sabe quem está negociando com quem enquanto você está aí, distraído; se você está com medo, então esquece e joga a toalha porque não vai entender o que o locutor está falando.

Seu campo está minado. Sua base está combalida. O chumbo grosso nem começou. Você sabe que aquele que você quem está só começando, e que os recadinhos de amor carregam raiva também, depende do seu entendimento e da sua reação. Você sabe quem está marcado para morrer no meio da caminhada rumo ao poder. Você sabe… sei que você sabe. Só ouvir na quermesse: aquele que sabe de você muito bem manda dizer que sabe o que você fez no passado e está fazendo no presente, mas te perdoa se não o traíres, e manda beijos!

Você sabe que quem sabe, sabe de você também. Pra bom entendedor, tudo que está escrito aqui tem alvo certo e vai muito sentimento no coração. Amor com amor se paga. Quem não sabe?

*Texto publicado pela Tribuna do Planalto

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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