Os amadores morrem antes

Há muito se desenha em Goiás um reordenamento de forças políticas, depois dos 20 anos de Marconi Perillo, 62 de vida política de Iris Rezende – se é que ele se aposentou mesmo – e da ascensão de Ronaldo Caiado ao poder, com horizonte de uma reeleição, sem sucessor natural.

A novidade é que, depois da tempestade, vem a estiagem, a calmaria, e com ela as oportunidades. Calmaria em termos, bem entendido, porque esse período de rearranjo é um tanto convulsivo, caótico, como estamos vendo – PT com PSDB?; MDB com DEM?; Republicanos com força ou como gripe passageira?

O ambiente é outro, convenhamos. É de viagem para o futuro.

O caminho está livre para quem de fato almeja se estabelecer na ou como ‘liderança’ em Goiás. E até que as coisas cheguem ao ponto de uma provável ou natural (tradicional?) polarização entre dois prováveis nomes, qualquer um pode despontar. Todos são candidatos a ser o próximo Iris, ou o próximo Caiado, a ser um novo nome fora da curva da História.

Chamo a atenção para um ponto, apenas, dentre os muitos que podem ser abordados nessa visão. Boa parte dos políticos de Goiás ainda raciocina e age de forma amadora. Não se organiza de forma objetiva e… Queria evitar a palavra ‘profissional’ pelo sentido pejorativo que também carrega na política, mas, tirando isso, ela define bem. A maioria não se profissionaliza, ou seja, não busca se posicionar e ao mesmo tempo consolidar uma imagem que o faça despontar de verdade. Há os que até se posicionam e trabalham bem, mas não investem na comunicação equivalente.

Um exemplo, como ilustração: arriscam tudo numa eleição, em vez de criar a oportunidade certa, na hora certa. E aqui vale citar que a vitória de Marconi em 1998 confunde as coisas. Em resumo: Marconi aproveitou uma inesperada oportunidade. Uma circunstância. Estava no lugar certo, na hora certa, e aproveitou, mais por arrogância do que por estratégia. Não fosse isso, seu destino certamente caminharia em outra direção. Quem sabe, sem inclusive a reeleição para deputado federal, que na opinião de muitos observadores, seria difícil para ele naquele momento. Para ser governador, no mínimo teria que aguardar mais, trabalhar mais, construir a sua chance. Porque forçar a barra nem sempre é a melhor estratégia.

Nessa pegada, temos em Goiás políticos que despontam como promissores mas que não passam de prefeito – ainda que várias vezes eleitos e reeleitos -, deputado estadual ou federal. Ou que até chegam a posições mais altas, porém de-repentemente desaparecendo logo em seguida, para nunca mais serem vistos nas urnas. Aqueles tais, cujos feitos não resistem aos inevitáveis ventos que deslocam para cá e para lá as nuvens da política, e muito menos às trovoadas que anunciam chuvas providenciais mas que também podem trazer enchentes traiçoeiras, arrasadoras.

Sim, temos outro grupo, o dos empresários que, embora vitoriosos em seus ramos e favorecidos pela visão míope daqueles que os veem como uma casta superior à dos animais políticos por vocação, quando enveredam para a política parecem  herdeiros perdulários. Vejam que são esses os mais convictos em entregar todo seu capital eleitoral a parentes ou irmãos de igreja, por entenderem que em política vale o que se economiza, e não o que se constrói. E como se gabam disso!

Os amadores continuarão surgindo e morrendo na velocidade de um ou dois mandatos. Os profissionais, os que conseguem enxergar além da bitola, estes que despontam acima do plano médio das disputas eleitorais, não. Eles é que são os verdadeiros candidatos a uma vida longa na política. Ou alguém acha que Caiado chegou a governador sendo amador? Ou que Iris virou Iris por má comunicação, como muitos dos seus adversários tentam pregar?

Não dá pra confundir sorte com oportunidade. Dama com xadrez. Em política, milagre é conquista de amadores. A urna é outra.

*Publicado primeiramente em Goiás Notícia.