Os radicais não estão apenas nas periferias intangíveis

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Esses dias ando meio aperreado. Nada sério. O motor tá rateando, fui parar no hospital, saí. Tudo bem. Aí dá uma vontade imensa de ficar quieto e só viver de dramas. Os de fantasia, porque a vida real já tem drama demais e só ataca o fígado, o estômago, o meio das pernas, não mexe com a imaginação. Logo, não assopra lá dentro do coração pra fazer chuva de sossego com serenidade. Olha o sonho.

Vão dizer: mas isso é fuga. Deve “de” ser, como diz um amigo. Deve de ser com certeza, e daí? Não chamam isso também de férias? Se pudesse, tiraria um ano sabático. A gente fica enredado demais em tretas alheias e vai um momento que buga tudo. A mente rodamoinho. Escrevo principalmente sobre política. Acham que não cansa? Cansa, entedia, desanima.

Mais no negativo do que no positivo, o que quer dizer que o esforço pra não ser negativo o tempo todo é grande e recorrente. E isso porque procuro fugir dos julgamentos. Não condeno a política, não condeno os políticos nem os eleitores, que são os responsáveis diretos pelos políticos eleitos. Quem sou eu? Fico na rebarba do jogo, em procurar esclarecer, desvendar, escancarar as jogadas e as intenções dos jogadores. Gosto disso, claro. Mas…

Anda chato não o volume elevado de tretas. Treta faz parte. Tem treta em tudo que fazemos. Somos essencialmente alma e treta. Mas tá faltando um pouquinho de sal nas relações. Nem dá pra brincar ou agitar com as tretas, porque as pessoas estão se levando a sério demais. É um tal de querer levar tudo ao pé da letra que nem sobra espaço pra um sorriso atravessado. Já vem logo querer tirar satisfação.

Os radicais não estão apenas nas periferias das ideias, dos ideais e dos interesses políticos. Estão em toda parte. Intangíveis no trato e tangíveis nas consequências. No vizinho, no colega de profissão, no parente. Todos querem ter razão e ninguém aceita conversar. Conversar ficou ultrapassado. O que importa é carimbar. A pessoa vai lá, não ouve o outro, e já mete o carimbo de sua opinião, de seus princípios tortos e de sua moral que se vende como impoluta, mas que não passa de falsa promessa ou ilusão de ótica irracional.

Vai perdendo a graça essa vida de política sem a graça dos ditos espirituosos, das frases de efeito, das catiras e dos carteados. Não é saudosismo. É constatação. Não acredito que as coisas voltem a ser como antes. Eu não sou como antes. Penso que é a mudança natural de tempo. Vivi meus anos de jornalismo e de política e os anos de hoje também são meus, mas em termos. São mais da nova geração, que corre e se estabelece. Eu observo e escrevo de memória e na fricção das lições acumuladas.

Busco esperança o tempo todo. Persisto. Deve ser herança do sul goiano. Como lavram a terra, eu preparo meu coração sempre mais para a colheita. Olho o que vai brotar, o que vai vicejar e vencer as circunstâncias. Não há política maior que o homem, a mulher. Tenho fé nos homens e mulheres. Não há homem e mulher que não descenda e não se destine a Deus. Tenho fôlego de mãe rezadeira. Não há realidade maior que o sonho. Eu tomo cachaça com arnica. Todas as hipóteses são negativas até prova em contrário. Eu contrario.

* Texto publicado pela Tribuna do Planalto

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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