Permitam-me insistir em um tema. Parece que há uma incompreensão sobre o que é e o que fazer na pré-campanha. Muitos estão jogando na pré o jogo da campanha. E isso acaba criando desgastes mais do que qualquer outra coisa – melhora na imagem e aumento da exposição positiva para ser captada nas pesquisas, por exemplo.
Pré-campanha não é momento para definição de chapa. É mais oportunidade de pesca de aliados. Vemos o governador Ronaldo Caiado (União Brasil). Por que interessaria a ele decidir agora os seus candidatos? Para ele, com raras exceções, a hora é de estimular aliados a colocar o nome na rua e nas redes. Lá na frente ele escolhe a quem vai hipotecar o seu apoio.
Vale o mesmo princípio para o ex-presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro é uma liderança que despontou em 2018. Não tem nem partido que de fato o represente. O PL é uma legenda emprestada que até pouco tempo atrás era aliada do PT. O PT é, sim, um partido consolidado, que se reconhece em seus filiados e potenciais candidatos. Natural que escolha Adriana Accorsi como candidata a prefeita em Goiânia e já a coloque em campo para ganhar musculatura. Outro tipo de exceção.
Conversar, ouvir, interagir, ouvir mais, conversar mais, ouvir mais um pouco, apresentar-se à população antes de ir pedir o voto, mostrar o que pensa, melhorar a imagem (para os que estão com problemas), tudo isso é atividade de pré-campanha. E prospectar aliados, partidos. Participar de eventos, estar presente nas comunidades. Organizar o discurso e o posicionamento eleitoral, com pesquisas e estratégias definidas.
Há muito o que ser feito. Mas não está na lista fechar portas. Correr para definir-se como candidato do governador sem saber se lá na frente vai ter esse apoio, ou pior, ver o governador na reta final optar por descarregar tudo em seu adversário, é dar oportunidade ao azar. É criar um problema desnecessário por antecipação e ansiedade.
Não interessa essas definições nem ao governador nem a muitos nomes que pretendem ir às urnas. O que não quer dizer que o correto seja distanciamento e negação ao governador. Quer dizer que é hora de manter a bola no pé, sem necessidade de chutar para gol. Administrar o jogo que está sendo jogado por todos, enquanto o tempo passa até as convenções.
Ansiedade não é parceira de ninguém, muito menos na pré-campanha. Lembro nessas horas de uma vez que acompanhei um time de jovens de São Miguel do Passa Quatro numas partidas num clube em Goiânia. Os adversários eram todos gordos e mais velhos. A meninada vinha de vitórias seguidas na região da Estrada de Ferro e ganhava todas. Velocidade total nas pernas.
O jogo começou e essa meninada de 18 anos, por aí, deitou e rolou, correndo pra lá e pra cá. Estava fácil, embora gol mesmo não tivesse saído até ali pelos 15 minutos. De repente… gol. Deles. Dos velhos gordos. Surpresa, claro. Aí fui observar melhor. A meninada corria, corria e não virava nada. O adversário tocava a bola com facilidade, os caras nem saíam do lugar. E pior (engraçado também): os meninos batiam no corpo dos outros jogadores e pareciam arremessados longe.
Perdemos de goleada e terminamos de língua pra fora. Mas ficou a lição. Erramos na pré-campanha, apanhamos feio na campanha.
Sua bênção
Sebastião Barbosa da Silva, que vem a ser o proprietário deste jornal, é um homem de fé. Testemunho isso desde que entrei na Tribuna pela primeira vez, quando ainda se chamava Jornal da Segunda. Tião não gosta muito de ser chefe. Prefere ser amigo. Nos tornamos amigos. Fazemos aniversário próximo, diferença de um dia. Imagina, dois cabras de escorpião.
Já dei muito trabalho pra ele. Imagina, ele é um escorpião sábio, vivido. E eu cheguei muito jovem na redação. Fizemos história, com uma equipe maravilhosa e o estímulo dele. Mas sempre desafiando, principalmente, ele. Vejam só. A gente desafiava o dono, e vencia. Hoje, até fico rindo, mas logo penso no que ele passou e… consigo rir mais um pouquinho, porque vivemos muitos bons momentos juntos.
Certeza que eu contribuí para que o Tião ficasse mais próximo de Deus. Ele perdia na redação, apanhava principalmente quando o Vila perdia nos tempos de fechamento aos domingos, e corria para Trindade. Lá ele ganhava. Ganhava bênçãos, ganhava forças para prosseguir. Em momentos difíceis, vi Tião não esmorecer. Manter-se altivo, determinado, animado, em nome da fé. Nos bons, distribuía sorrisos e agradecia a Deus.
Dona Edna, esposa do Tião, e seu filhos, sempre foram presentes no jornal. Vi os meninos deles crescerem, eles viram os meus ganharem prumo. Uma convivência sadia, abençoada. De funcionário da gráfica de O Popular a dono de um dos semanários mais importantes do estado, Tião faz história. História escrita no jornal e na vida dos goianos. É um homem abençoado.
*Texto publicado pela Tribuna do Planalto