O presidente da OAB-GO, Rafael Lara, foi reeleito neste 19 de novembro para um novo mandato de três anos. Resultado notável: 80,1% dos votos. Muitos desafios o aguardam. E oportunidades também.
FLERTE COM A POLÍTICA
Com habilidade politica, Rafael juntou os dois maiores grupos internos da entidade, que vêm se enfrentando há anos, e criou um novo marco. Hoje a OAB-GO não tem oposição. Há posicionamentos contrários mas que não arrastam multidão. As urnas mostraram que os poucos líderes que se apresentam como oposicionistas pouco lideram.
Antes, Rafael chegou a flertar com uma carreira na política além da OAB. Na pré-campanha para prefeito, foi cogitado como candidato na Capital. Nome novo, em ascensão, tudo conspirava para levalo para este rumo.
Quando soou o alerta dentro da seccional indicando que a especulação poderia atrapalhar sua possível reeleição ou a escolha de um sucessor – caso decidisse mesmo sair –, ele se mexeu, reverteu a narrativa e se firmou como favorito até a vitória retumbante.
Na campanha, o assunto foi jogado para debaixo do tapete. Assim como uma inconveniente ligação com o governo estadual, tratada por ele como pragmática, apenas: relação boa para produzir resultados bons para os advogados, como os pagamentos regulares de dativos.
Passada a eleição, fato consumado sua liderança de porta pra dentro, o assédio para que entre de vez na disputa pelo poder no Estado tende a recuperar fôlego. No mínimo é razoável que ele passa de imediato a abrir caminho para seguir nas disputas dentro da OAB, só que em âmbito nacional. Vamos voltar nisso.
POR DENTRO DA OAB-GO
Há uma longa lista de afazeres e desafios na conta da seccional da OAB de Goiás. E de todo o Brasil, claro. Converse com advogados, especialmente os mais novos, e repare que os principais continuam a ser: mercado de trabalho e defesa das prerrogativas. Agora, acrescente aí uma outra, ressaltada pelo reeleito Lara na campanha: a criminalização da profissão.
Em resumo: todos querem mais espaço para vencer na vida e menos entraves para o pleno exercício profissional. Demandas que se inbricam e atravessam os tempos. Problemas na percepção e no discurso em geral que batem direto no queixo de cada advogado e cada advogada. Rafael Lara que resolva as coisas ou aponte saídas.
Na campanha, tais temas foram abordados no calor do embate. Resultado: foram tratados na superfície. Lara se defendeu e mostrou o que tem feito, a oposição discordou, criticou e não convenceu. Campanha passada, o debate cai mas os problemas permanecem. Rafael Lara que se cuide para que a ponte provisória não lhe caia nas costas lá na frente.
RESPONSABILIDADES DIVIDIDAS
Um parênteses.
Depois que passam as eleições, a instituição costuma mostrar reconhecimento sincero de feridas localizadas na sua estrutura e profissão, mas sem contrapartida prática ou de alcance profundo. Há mais tratamentos pontuais do que cura. Os próprios problemas recorrentes citados servem de prova para o veredito.
A classe também não cobra tanto depois. Na campanha, essas mesmas feridas são reabertas e as manifestações fervem exaltadas em entrevistas e palanques. E aí, essa que é pauta da mais urgente necessidade para os advogados, acaba misturada a sentimentos de escolha e gana de vitória simples e datada: as urnas.
Quer dizer: o mais importante para todos torna-se menos importante do que ganhar, custe o que custar. As decisões de voto são tomadas não por razões de manifesta necessidade e boa defesa do futuro do maior interessado – o próprio advogado –, e sim pelo fígado. Em vez do sentido de praticidade atinente aos fatos e à razão profissional, vence o instinto humano básico do fogo fátuo.
Costuma acontecer inclusive de aqueles que ganham a eleição com quem ganhou de verdade e estará realmente no escalão superior do poder na instituição, logo depois se acomodem frustrados e também derrotados, por simplesmente não ganharem nada além da comemoração instantânea. As conquistas reais? Limitadas à próxima eleição.
Escrevo com o cuidado de quem faz o papel do advogado do diabo. Um ou outro falar simplesmente que vai fazer valer a ferro e fogo as prerrogativas, defender os advogados e abrir picadas no mercado de trabalho, é fácil. Fazer é que são elas. O presidente da OAB tem sua responsabilidade, mas advogados e advogadas também têm a sua. É a soma que resolve, e não a divisão.
RAFAEL LARA E O FUTURO
Liderança mais do que confirmada dentro da OAB-GO, Rafael Lara volta a ser foco das atenções por ser agora um nome naturalmente especulavál para ocupar espaços vazios na política partidária. Goiás está em processo de mudança de ciclo político. O governador Ronaldo Caiado é o divisor de águas de uma geração que está se despedindo e outra que está chegando.
Lara tem a habilidade do político bem articulado, a coragem de ir à luta e o cheiro do novo, da mudança. Se escolher seguir outra politica, a de dentro da OAB, também reúne qualidades que podem levá-lo longe. Mas se for pela via partidária, o caminho está, como se diz, pavimentado. E como agora não há mais freio no assunto, já que a reeleição é fato consumado, nada impede que o tema emenda. Questão de tempo e oportunidade.
Vencedor agora, Lara é candidato desde já. A quê? O seu futuro a Deus pertence. E às suas nobres ambições humanamente políticas.