Rogério Cruz. Jorcelino Braga.

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Conheço Jorcelino Braga há muitos anos. Um amigo que a política me deu. Trabalhei com ele em algumas ocasiões. Quando muitos desdenhavam de sua competência como marqueteiro, eu o via animado como um garoto andando na enxurrada depois da chuva, rascunhando letras de jingles e roteiros de programas de TV.

Uma frase sua que é um ponto de resistência e força: “Campanha você pode até errar no rumo, mas o rumo, nunca.” É dele também a leitura de pesquisas e números para o veredito sincero: dá para ganhar, não dá para ganhar. E, junto, a entrega total na busca da vitória, com entusiasmo e determinação até o último voto. Ele não desiste nem do cliente, nem da missão.

Há intransigências, sim, como a de conversar apenas com o candidato e os poucos que aceita em torno. Uma intransigência de inconformado com o ambiente muitas vezes tóxico dos assessores que querem se impor, de quem não quer perder tempo ou suor com o que não rende, de quem não aceita as pequenas guerras dos comitês, de fofocas. Os incomodados que se retirem em silêncio.

Conheço Braga jogador de futebol, que reúne semanalmente amigos para a pelada sagrada em seu campinho. E que está sempre de chuteira na mão, para não perder a ocasião. Conheço Braga que puxa a viola e canta moda sertaneja. Já o vi diante de seus ídolos Milionário e José Rico olhando admirado e embasbacado. O que tanto olha, Braga? Tô prestando atenção para ver se o Zé Rico vai desafinar. E desafinou? Nem uma vez.

Conheço Braga na relação com os filhos, no contato direto com os amigos. O sujeito capaz de impedir olheiros de assistirem aos programas que bolou, porém capaz de chamar eu, o fotógrafo, o pesquisador, a senhora do café para verem o que criou. E tratar qualquer reparo, elogio ou não, com aquela sanha do garoto que sempre deixa surgir no seu trabalho.

Braga é duro na queda. Se ele falou não a alguém, não espere que um sim lá na frente. Uma de suas graças hoje é exatamente ter vida própria, independente, sem amarras, para fazer o que escolher. Ele ouve a proposta, pondera, observa a reação, ouve sua equipe e amigos, olha planilhas ou índices de pesquisas, e decide pelo sim ou pelo não.

Muitos veem em suas escolhas motivações que, na prática, não existem. Ele escolhe para atender a um amigo, por ver um desafio novo pela frente, por birra, porque achou interessante, para provar que consegue, porque quer. Escolhe por motivações elementares, ao contrário de muitos que decidem só pelos ganhos possíveis.

Já o vi recusar cliente milionário por razões tênues, mas importantes ao seu caráter, e aceitar o que todos recusaram por achar impossível. Não que ignore o jogo e seus ganhos. É um jogador. Mas um jogador que, mais do que vencer, quer ter prazer no jogo em curso e depois, ao contar a história. Um jogador que gosta do ataque, mas que conhece as artes e mãnhas da defesa, do contra-ataque e dos chutes na canela, se necessário.

Braga é capaz de sair de Goiânia e tomar o rumo de Vianópolis ou São Miguel do Passa Quatro para prestigiar o aniversário de um amigo. Fez serenata para meu pai. Cantou Tião Carreiro para amigos em comum. Canta, até hoje. Ao lado dele, o trabalho nunca fica pesado. É leve, descontraído, cultivado com risos e muita presença de espírito. Braga, se ouvido, conhece caminhos que cortam distâncias. Sabe o que faz.

Tudo isso para dizer uma coisa: os seus defeitos não o definem, e sim as virtudes. Se Rogério Cruz, prefeito de Goiânia hoje com chances reduzidas de reeleição, confiar, ele vai longe e pode até chegar lá. No mínimo, estará no jogo principal. Agora, se desconfiar para fiar-se nos arautos da verdade que o cercam, aí nem a fé poderá fazer milagre. Porque Deus disse mais ou menos assim: faça a sua parte que eu faço a minha. Em outras palavras: se ora para ganhar na loteria, pelo menos joga, né.

*Artigo publicado pela Tribuna do Planalto

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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