Ser Iris Rezende

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O ex-prefeito, governador e ministro Iris Rezende Machado é inspiração para boa parte dos políticos hoje. Uma referência genuína para quem pensa em construção de uma história política e em gestão pública positiva. Mas seguir os seus passos vai além de conhecer sua biografia e repetir uma ou outra de suas marcas. É preciso entrar no coração de Iris para conhecer e aprender com ele.

Quando idealizou o Parque Mutirama, não o fez olhando o capital político que isso lhe daria. O capital político não nasce e se solidifica com uma obra. É preciso que ela tenha alma. A ideia do Mutirama veio quando Iris viajou aos Estados Unidos e viu algo superior lá. Sentiu então que dava para fazer, em Goiânia, algo semelhante, para as famílias de menor poder aquisitivo que não podiam frequentar os parques voltados até então para as classes média e rica da cidade.

O Mutirama continua um lugar mágico para as crianças mais pobres. Uma obra pública de afeto para pais e mães. Quando Iris decidia fazer uma obra ou criar um benefício, ele invariavelmente destacava o potencial humano que aquilo teria. Mas não era um discurso tirado do nada, depois da obra pronta. Isso vinha desde a concepção.

Na final do seu mandato derradeiro, era visível seu entusiasmo com a Avenida Leste-Oeste. Era sua obra de resistência. Dedicou-se bastante a ela. Não ficou pronta, porém está traçada e encaminhada para que os sucessores a concluam. O entusiasmo dele com o BRT e a Norte-Sul eram inversos. E a razão não era preferência: ele entendia que, para a cidade, a Leste-Oeste era prioridade, uma necessidade urgente por conta de fatores variados, como o incômodo com o que a Norte-Sul faria e fez com a Avenida Goiás e com o estímulo ao crescimento em torno da Barragem do João Leite, que abastece a Capital.

O Mutirão surgiu porque ele queria levar casas aos moradores, o governo estava sem dinheiro na época e a solução que viu foi uma bem conhecida de seus tempos na roça. Criou uma marca, que se tornou uma espécie de ‘veículo de comunicação’ particular insuperável e um canal de conexão genuíno com o povo.

Iris olhava para o futuro e criava perenidades. Os seus asfaltamentos continham mais histórias do que massa asfáltica. Ele contava sobre a dona Divina, o seu João de cidades do interior, e ressaltava que iam poder andar de cabeça erguida, com imóveis valorizados, saúde preservada dos males da poeira. As razões eram legítimas, as histórias eram verdadeiras, e seu depoimento era eivado de motivações que remontavam à sua infância e juventude também no interior. Era identificação, melhoria de vida, cumprimento de missão divina.

Dá para enumerar feitos de Iris que carregam toda sua vocação para a gestão e a política. Ou pensam que era fora de propósito ou jogada marqueteira sua recorrente citação de Deus como motor de suas ações? Ao falar que sua vida só tinha explicação como missão divina, ele estava sendo sincero. E mais uma vez mostrava haver grandeza nas suas motivações e decisões. Não era um homem conduzido por explicações humanas, mas por vocação superior.

No fim de sua última gestão na prefeitura, ele tinha índices de aceitação popular que certamente lhe dariam uma reeleição tranquila, mesmo aos 86 anos. Recuou quando Deus, ouvindo suas preces, lhe mandou a mensagem de que era hora de parar. Ele caiu em casa e assustou-se com isso. Foi o que disse ao avisar que, definitivamente, era hora de encerrar sua carreira política depois de cerca de 70 anos de vida pública. Dois anos depois, adoeceu e foi para a gestão de cima. Ser Iris é antes de tudo viver Iris de corpo e alma.

* Texto publicado pelo Diário de Goiás

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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