Sinto que escrevo com muita força. Força de bete no meio da rua. Bruto igual empurrão pra ninguém triscar no meu doce. Quero serenar meu texto. Isso.
Dona Zinha adorava quando a gente chegava esbaforido na cozinha dela. Uma meninada desmedida. O-quê-vocês-querem? Ela falava meio assim, cara de espertinho da rua de cima. Tudo. Já viu criança querer menos?
Meu sonho é escrever que nem dona Zinha. O mundo pegando fogo e tia no encantador mundo dela. Será preciso tirar o cerol das frases. O Murilo era bom de cerol, mas não me ensinou a desviver sem perder a alma.
Não estão me pedindo pra serenar. Eu que quero. Me diverti muito com as pipas que joguei por terra. E tive muitos voos meus cortados as vezes de saída. Acabou a brincadeira. Quero ser barco de papel em riachos. Tem jeito?
Posso ter chegado a um ponto de não saber mais fazer de outro jeito, ou de estar condenado a este ser o único jeito que resta pra mim, sem dó nem piedade, como parte de um plano maior para me redimir dos pecados.
Pode ser que minha alma seja assim e não tenha Deus que dê jeito. Pode ser que não haja mais tempo. Vou continuar insistindo menos por fé, é mais para contrariar as expectativas, até que as coisas mudem. E mude. Meu texto fale por mim com a serenidade que almejo.
Não quero muita coisa. Só um texto sereno, no sentido cerrado, com chuvisqueiro bem gelado. E uma personalidade de mata. Mata bem de verdade. Mata ciliar, pode ser.
Uma palavra, uma pontuação, outra palavra, um sentido figurado, a vírgula do riacho fundo, duas pedras jogadas com força, mas só pra depois reverberarem com graça e sentido algum dos regos d’água. Qualquer um que não me seque.
*Texto publicado pela Tribuna do Planalto