Neste fim de ano, não pense em como os políticos são. Reflita sobre o eleitor que você é. Se os valores que cobra tanto nos eleitos são praticados à sua volta, causando a mesma revolta, e de dentro de você pra fora, fazendo-o tão indignado ou mais. Se suas orações pedindo um País melhor, justo, um País sem desigualdade, um País como você sonha, e se a iniciativa para realizá-lo parte de sua casa ou é motivo de seu desalento com a política porque você esperava que partisse de quem tem mandato, ainda que quem você ajudou a colocar lá não está nem aí para a paçoca desse País – ou, mais triste, simplesmente ele não tem qualquer preparo para tamanha tarefa patriótica e civilizatória.
No Natal, dê-se o presente da decisão retumbante, e diga alto, para Papai do Céu e seus semelhantes ouvirem: de agora em diante, não trocarei meu voto por 50 reais, nem por gasolina, muito menos por um emprego para meu filho ou minha filha, e de forma alguma por uma promessa de participação no lucro público. Diga mais: de hoje pra frente, vou me informar sobre quem são os candidatos, sua índole e caráter, suas promessas e intenções, e não vou mais esquecer o nome do elemento, de quem cobrarei diuturnamente que cumpra com seus deveres cívicos e que entenda que mandato não é cheque em branco, e voto de confiança e precisa ser honrado.
Caro cidadão, digníssimo cidadão, que neste momento de confraternização possamos ainda refletir sobre os bons modos à mesa de debate a dignidade do respeito às opiniões alheias, e beleza que há no bate-papo, na conversa, na prosa, que é como se faz lá na roça, e que isso sirva de norte para o nosso comportamento em sociedade. Afastemos de todos nós a compulsão para o combate verbal, o embate de concepções sobre o que quer que seja, a volúpia por ter razão, a instransigência linguística e a impertinência das alegações fulminantes, capazes de matar até mesmo quem antes amávamos. Que cancelemos os cancelamentos e descortinemos o entendimento, a busca pela convivência primaveril.
Como há muito desejamentos de amor ao próximo no Natal, e prognosticamentos de felicidade e prosperidade nas festas, usemos parte desse acúmulo de energia amorosa para colocar nos pontos vagos ou trocar pelas veias apodrecidas dentro de nós, a fim de nos dar força e fé legítima para combater os falsários dos extremos interesses políticos particulares, que reputamos, inocentemente, como portadores das obras divinas, mas que não passam de obras de elevado interesse infernal: o patriotismo barato, o (falso)moralismo hipócrita, a ignorância bíblica, a pataquada anti-Crística, a babação de ovo aos profetas (ba)bélicos e espertélicos – espertalhões do templo bancário – em nome do senhor, o senhor dízimo enriquecedor.
Sejamos melhores pessoas, melhores cidadãos, melhores eleitores. Quem sabe assim, caso candidatos, sejamos abençoadamente melhores políticos. Não sendo este o caso, que possamos escolher melhor os nossos representantes. Assim, quem sabe, este País não será o mesmo da nossa inglória realidade e da nossa cantilena de reclamação. Façamos, pois, a nossa parte para que o País dos nossos sonhos se realize para todos os séculos e séculos. Amém.
* Texto publicado pela Tribuna do Planalto