Assim sendo, não tenho futuro. Tenho um sonho na mão. O que é um sonho pra hoje? Um sonho no passado? Um sonho que se realizou sem que eu estivesse lá? O que vou fazer com um passado que não me aconteceu nem em pesadelo?
As pessoas me perguntam o que vou fazer da vida. A vida não são os fatos e dois pontos, sem reticências. Não sei nem o que a vida vai fazer de mim. Destoo da humanidade. Não tenho sonhos. Não sou desses tipos normais para quem as coisas vão além da realidade.
Quantas vezes terei que chorar para ser um homem que chora pelo que vai acontecer? Não vai acontecer exatamente isso, o choro. Hoje, não tem lágrimas para amanhã. Hoje, só tenho olhos para o passado, e nem estou lá desde então.
Minha herança é a memória que jamais existirá. Eu desapareço todos os dias e não reaparece nem daqui dois dias, nem qualquer dia anterior. Não deixo minhas lembranças. Perco as lembranças e me perco sem sentido. Na falta de futuro, hoje nunca mais. Nunca. Nunquinha. Ja-mais.
*Texto publicado pela Tribuna do Planalto