Não deveríamos nos importar com o que as pessoas pensam de nós. Mas nos importamos. Não deveríamos nos abater com o que dizem da gente. Mas nos abatemos. Não deveríamos temer o sofrimento quando os outros nos desejam o que não nos faz bem. Não deveríamos. Mas não é assim que funciona a vida. Somos os outros. Não somos o que somos tão somente.
Há uma persuasão do destino em alguns de nós para que sustentemos o mundo nos ombros. O mundo é maior que eu e os meus malabarismos. Mal me sustento. Bem me equilibro. O que ouvimos nos atinge com a força de um canhão. O que define tudo é a superficie. Sou eu. O que importa é a resistência do corpo ante o impacto arrasador que vem com destino certo. O que nos faz incertos.
As pessoas preferem suas opiniões à indefinição que carregamos. Escolhem o ataque sorrateiro, em vez do questionamento simples e direto: afinal, a que veio? Pouco importa se não temos respostas sobe nós, se o que levamos na alma são perguntas infinitas indissociáveis. Nada importa além da própria ânsia de nos destruir com seus apontamentos.
Pior fazemos no papel desse outro cruel por natureza. Nos comemos crus ante o que não deveríamos, diante do que haveríamos de se não fosse a ingenuidade, na melhor visão de nós mesmos, ou a covardia, na realidade. Não deveríamos nos deixar ser o que de fato não somos, para morrer sendo o que imaginam ser o nosso mal estar na vida. Matemos os outros, salvemos o nosso féretro e o fim que nos cabe vencer.
Não deveríamos nos ater ao fluxo da vida. Mas a ter fluxos de vida sem definição e sem limite de interpretação.
*Texto publicado pela Tribuna do Planalto