Segunda-feira com a energia (sei) da Equatorial

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Segunda-feira eu funciono igual a Equatorial: com apagões constantes. Eu sei, eu sei, você também. Certeza que é problema na minha infraestrutura, postes velhos, linhas cruzadas, centros de distribuição de energia sucateados. Falta de investimento na manutenção e expansão da rede. Ao contrário da Equatorial, cujo problema é outro, humano, de humanidade sem goianidade. Não estamos preparados para o período chuvoso. Como assim, alienígenas? Faça consumo consciente. Como assim, o problema é da população? Vai melhorar. Como assim, vai, vai?

Não é preguiça. Segunda carrega o dia todo a semana inteira nas costas. Deve ser por isso que pesa tanto. Na terça é que lembramos: pra quê levar todos os livros na mochila, digo, todos os dias pendurados? Basta um. Um de cada vez. Mas estamos falando de segunda, não há razão que dê jeito. O sentido é outro, tem a subjetividade do significado que não está no dicionário e que cada um explica segundo suas palavras e sentimento. Quem nunca disse, numa quinta, por exemplo, hoje tô com cara de segunda-feira? Então.

Para quem, no final de semana, teve que lidar com apagões de energia, este dia amanhece mais emburrado. Vontade de ir na Equatorial e descer a mutamba, desligar a luz na sede e falar: aqui só liga quando todo mundo tiver energia. Nada de tratamento privilegiado. Saudade daquelas broncas do governador nos tempos da Enel, que agora está dando trabalho e grita lá em São Paulo. Lá a coisa também tá feia: choveu, cachorro mijou no poste, apaga a luz. Aqui estamos de olho e a bronca é geral. O povo olha, escuta e xinga.

Mas vejamos coisas boas que as coisas boas aparecem, ensina Fred, meu coach preferido. Fecha os olhos. Olha a paisagem, olha este sol quente derretendo a moleira, repara nas nuvens, sente o ar sossegado deste dia, pensa como somos privilegiados, sem guerra, com fartura. Primeiro: fecha os olhos e olha? Segunda-feira. Nem os coaches dão jeito. Minha meditação se restringe a imaginar a terça – e desejar. Sei que no outro dia tudo será diferente. Tô acostumado. Já vivi segundas demais nessa vida.

Aos que gostam de segundas-feiras, nada tenho a dizer. Gente esquisita, que nem deve saber que a Equatorial existe, porque produz a própria energia. Deixo pra lá e me concentro no meu drama em particular. Falar nisso, comecei a ver um dorama em que uma mulher literalmente assume o cansaço mental e a estupenda alegria de não fazer nada. Olha que maravilha. No dorama não têm segundas-feiras. Será que é porque nesse caso elas não existem? se for isso, já sei: quero morar nesse dorama. Amanhã vou atrás disso. Hoje, não. Hoje é segunda-feira e ninguém merece.

* Texto publicado pelo Diário de Goiás

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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