O PT decidiu pela deputada federal Adriana Accorsi na disputa pela prefeitura de Goiânia. O Accorsi tem história na cidade. O pai dela, Darci, um filho de Nova Prata (RS), foi prefeito (de 1993 a 1996) com um mote que ela poderia muito bem retomar na campanha, se quisesse: Goiânia, Cidade Viva.
Digo que poderia porque tem tudo a ver com o momento que a cidade… vive. Marketing eleitoral tem razões que as emoções reconhecem, e não quer dizer que apelar ao saudosismo vá eleger alguém. O fato é que as boas lembranças, sim, contam muito.
No sorriso, Adriana se parece muito com o pai. Ela sorri grande e fala com força. O pai falava mais alto. Ambos têm na expressividade um ponto bastante positivo. Com seu jeito espontâneo e derramado, Darci era puro carisma. Adriana carrega essa aura. Ela tem no rosto a atração natural dos que cativam sem precisar pedir licença.
Já contei histórias sobre seu pai. Passagens que a mim deixaram saudade. Várias vezes fiquei horas com ele no Boiadeiro comendo paçoca de carne e ouvindo suas ideias, suas extravagâncias expressivas ao chamar atenção para algo que queria enfatizar, e sua risada desbragada. Darci contaminava com sua presença agradável onde quer que pisasse.
Adriana, delegada de origem, tornou-se política com o suor de seu rosto. Elegeu-se sempre com base no seu trabalho. E chegou ao ponto de ser escolhida candidata do PT não por imposição do partido, mas porque é hoje um nome leve, que transita livre entre outras legendas, que sabe dialogar. É a preferida do PT pela simples razão de ser o melhor nome de fato do PT, mérito especialmente dela.
Com tanta gente querendo se candidatar em Goiânia, Adriana é um diferencial ainda por ser basicamente uma unanimidade no partido. Qual outra legenda tem esse capital, nesta altura da pré-campanha? Nas conversas de bastidores, ela é tida como um dos nomes mais fortes, com um pé no segundo turno. O desafio, dizem todos, será o arco de alianças e a avaliação de Lula no ano que vem.
E aí está a questão. O PT está andando no compasso temporal da eleição. Não se ganha eleição agora. Agora, discute-se propostas, apresenta-se intenções, especula-se, ganha-se espaço e tempo. Ano que vem, sim, o jogo será decisivo. Adriana também mostra calma, ponderação. Na prática, apenas ela e os petistas estão desacelerados. E ela, arrumando o que precisa para entrar de vez no jogo.
Darci, para mim, é sinônimo de uma política de brilho, de jogos inteligentes de xadrez. Tempos também de Nion Albernaz (que antecedeu e sucedeu Darci) e Iris Rezende Machado. E de Pedro Wilson, outro petista prefeito de Goiânia e um nome que rima fácil com admiração. Nem se trata de ganhar ou ganhar. Mas de termos uma disputa de alto nível, com nomes de respeito e boa expectativa. E a certeza de que o vencedor, no final, será quem não pode mais perder (um segundo sequer): Goiânia.
A goiana Adriana, tão nova quando seu pai foi prefeito e sua mãe, Lucide, uma primeira-dama tão dedicada, tem no sangue não só a herança de sua família, mas também a da cidade que vive no coração de cada um de nós que amamos Goiânia.
* Texto publicado pelo Diário de Goiás