Político que não tira da boca o julgamento da moralidade alheia e se apresenta como a última reserva abençoada da terra, não tem erro: mais cedo ou mais tarde, vai cair do cavalo. Esses são os piores: mais abençoados e purificados que Jesus Cristo.
Político sem caso de família mal resolvido ou sem jamais ter cometido pecado que não possa virar escândalo, que atire a primeira pedra. Construir uma vida pública em cima da narrativa de católico apostólico impoluto ou evangélico com a mão pregada na Bíblia, atacando e condenando os males do mundo, é andar no fio da navalha com a fogueira dos infernos logo abaixo.
Em campanha, então, tudo se eleva. Não há abençoado ou santo que resista a uma CPI ou a uma boa investigação, algo elementar em qualquer disputa para o executivo. Os bastidores da vida sempre vêm à tona. As contradições viram balas de canhão contra o próprio patrimônio ético movediço.
De repente, as hipocrisias saltam aos olhos e os furam. O humano, demasiadamente humano, ou humana, perde-se e depois perde a eleição sem nem entender as causas e os efeitos de suas atitudes inomináveis.
Um candidato ou candidata em reeleição, o ser humano, todos temos segredos que, revelados, não nos favorecem por razões várias; ou, pior: não deixam pedra sobre pedra. E uma campanha é mais que isso: pecados mínimos se tornam capitais, atitudes questionáveis se transformam em transgressões imperdoáveis. Vale tudo. Feio é perder. Quem já não ouviu isso?
Se nada foi encontrado porque bem escondido, inventa-se. Não há moralidade que resista a uma história bem contada; e, se verdadeira, melhor ainda para quem a conta e espicha. Daí que se o candidato não estiver com os pés no chão, a explosão vai jogá-lo fora da realidade. É o que acaba acontecendo com os arautos da moralidade, mais cedo ou mais tarde.
Por isso, o que mais preocupa candidato ao cargo executivo não é acertar o seu discurso, mostrar o que pensa, propõe e sonha realizar. O que tira o sono mesmo de quem está na linha de frente da disputa é o que de mal vão falar dele, e o que ele tem de arsenal de maldade contra o adversário. Raras são as exceções.
De que adianta tanto cuidado com os defeitos alheios se os próprios são maiores e fatais?
*Texto publicado pela Tribuna do Planalto