Permitam-me insistir em um ponto. O maior erro de cálculo dos aliados do governador é não levarem em conta seu projeto de ser candidato a presidente da República. Com a alta popularidade dele, com sua conhecida forma dura e agressiva de fazer política, com sua coragem e o tempo cada vez menos propício a esperar novas oportunidades para realizar o sonho, ele se leva muito a sério para estar de brincadeira. Pode não ser candidato, mas que vai lutar por isso, não há dúvida.
A ênfase aí tem um propósito: mostrar que os sinais dele evidenciando a importância dessa candidatura são fartos. E reiterados, porque a todo instante, nos últimos anos, ele tem deixado claro o objetivo. Difícil entender, portanto, é por exemplo, que Bruno Peixoto ignore isso ao levar adiante o seu projeto de ser prefeito de Goiânia da forma como está levando. Legítimo Bruno querer ser prefeito. O que pouco se compreende é colocar a sua pretensão como uma pedra no caminho de Caiado.
No meio do ano passado, a pressão em cima da filha de Iris Rezende, a Ana Paula, para que desistisse de ser candidata resultou em ataques diretos a ela e o definitivo distanciamento de ambos. Estava claro que esses ataques partiam de aliados de Bruno. E para quê? Acelerar uma decisão que, primeiro, a Caiado não interessava – ele mostrava querer tempo exatamente para tocar o projeto nacional – e que na prática nada mudaria, como não mudou, em termos de consolidação de candidatura da base governista?
Ana Paula era pré-candidata não por motivação própria. Era porque se via incentivada por Ronaldo Caiado e seu vice, Daniel Vilela. Ao forçar a barra, Bruno já começou desagradando não a Ana Paula, que se retirou da disputa e foi tocar sua vida, mas aos presidentes, que também são, do União Brasil e MDB – governador e vice. Só isso. Imaginem. Desde esse momento o governo, por meio de vários interlocutores em contato direto com a imprensa e aliados de partidos variados, tem deixado claro o descontentamento com Bruno, com a sua atitude e a sua pré-candidatura.
Incentivado por outros deputados e assessores próximos, o que Bruno fez? Acelerou o passo e começou a correr como um trator, ocupando espaços na imprensa, fazendo o tipo popular, criando fatos com memes e declarações sob encomenda, indo aos bairros com uma estrutura gigantesca, tudo em nome de uma só coisa: a prefeitura de Goiânia. Bruno é hoje mais candidato a candidato a prefeito do que presidente da Assembleia Legislativa. Basta olhar sua agenda divulgada, suas redes e seus posicionamentos.
Nesse meio tempo, foram inúmeras as notícias vazadas do Palácio reiterando o descontentamento do governador com toda essa movimentação. Notícias de conversas de Caiado com ele, encontros reais, a pauta da insatisfação palaciana foi o que mais alimentou os bastidores. Até a viagem para a China, quando consta que uma conversa decisiva foi feita entre o governador e seu presidente. Nas primeiras horas depois da viagem, Bruno até pareceu recuar. Mas isso durou pouco. Recentemente, outra conversa dura foi assunto de vários governistas e deputados, todos dizendo que seria definitiva. Não foi.
O pai de Bruno Peixoto, vereador Tião Peixoto, expressou toda a raiva com o veto de Caiado ao nome do filho para prefeito e a possível escolha de Jânio Darrot para representar a base aliada. Misturando desafio e ameaça, Tião provocou Caiado a deixar Bruno sair do União Brasil para ser candidato a prefeito. Porque tem isso ainda: Bruno não tem janela para desfiliação agora e depende de Caiado em todos os níveis para disputar a prefeitura. Só a anuência do governador pode fazer dele candidato pela base governista ou por outra legenda. Sem isso, o filho de Tião vai gritar no vazio e nem o próprio eco ouvirá.
Bruno Peixoto usa com Caiado a estratégia de cutucar a onça com vara curta. Com Caiado não se brinca, nesse ponto. Quando mais fustigado, mais Caiado reage com força e facão. Ele arrocha, não bambeia. Todas essas frases feitas são verdadeiras, quando o assunto é Ronaldo Caiado. E quem não sabe? Se tudo isso é sabido e confirmado, por que cargas d’água Bruno resolveu, em vez de fazer política, peitar Caiado? Essa é a pergunta que mais se ouve quando um ou mais estão reunidos em nome da eleição deste ano.
O que mais se vê nessas horas é outra coisa. Uma grande torcida por Bruno Peixoto. Mas não uma torcida para que ele derrote Caiado, porque nisso ninguém acredita. É a torcida dos que querem se divertir vendo o circo pegar fogo. É o incentivo dos que estão calados esperando que Bruno provoque cada vez mais Caiado. É a geral pagando de torcida organizada para empurrar os jogadores para o fosso. Por um lado, comemora-se por antecipação o racha na base provocado por Bruno; por outro, a dor de cabeça em Caiado, que tem que olhar pra baixo quando deveria estar olhando para cima.
Da mesma forma que repete que quer disputar a Presidência, Caiado fala que quer vencer em Goiânia e conseguir um feito que outros governadores não conseguiram, que é eleger o prefeito da Capital. E ele tem capital político hoje e um governo motivado para alcançar este feito. Não é com birra e picuinha, porém, que isso será construído. Bruno tem a oportunidade, pois, de se colocar à altura da missão. Troca a grandeza da articulação esperta pela esperteza da tentativa da imposição de seu nome por conta de estar em posição política privilegiada: a presidência da Assembleia.
Se não combinar com os interesses do governador, Bruno continuará batendo a cabeça na parede. Somará mais descontentamento dos governistas, incluindo o MDB, do que compreensão e engajamento. E por fim correrá o risco, sendo verdade ou não, de ser o responsável por uma crise que culminará na derrota dos governistas e o fracasso da candidatura de Caiado a presidente. Ou acredita que terá mais fôlego de comunicação para se vender como vítima contra a estrutura do governador? Nesse caso, se acredita, nada a dizer.
Basta lembrar o destino da grande maioria dos presidentes da Assembleia para ver que Bruno tem outra sina com que se preocupar: para onde foram os colegas que o antecederam no comando da Alego? Ser presidente da Casa está mais para fim de linha do que para ascensão política.
* Texto publicado pela Tribuna do Planalto