A vida fica sem graça sem um corpo para abraçar e uma alma para acochar. A minha vida não faz sentido. Ela tem sentido todos os instantes, em todos os sentidos. Minha existência é verbo substantivo neste momento em que a distância é dolorosamente adjetiva. Essas coisas.
Não sei definir o quanto me faz falta a possibilidade de agarrar com gana o sentimento e ver um sorriso barulhento sair por aí. Ter nos meus olhos este quando é uma potência atordoante. Eu desejo mais o quanto. Quero muito sorver a pele enquanto a pele, só um risco n’água, foge sentindo cócegas. Ocorre que isso é viagem. Adeus.
Aquela provocação do beijo na ponta dos meios, na linha entretida pelos lampejos, e os lábios nos lábios com suavidade antes da sofreguidão, isso eu respingo no horizonte, até o horizonte se perder no olhar. O que não vejo é o que me olha desolado. E me sorve.
Não há qualquer graça se não posso puxar seu corpo para o meu, laçar com minhas pernas as suas, e apertar sua ânsia com a minha de um jeito que não a sufoca, de um jeito hábil que a acolhe e absorve.
A vida está fora de questão. Você se foi para o mais longe impossível de nós dois. Está tão aqui, sorrindo e tão plangente. Está aqui, resplandecente.
* Texto publicado pela Tribuna do Planalto