Um questionamento constante que ouço é por que diabos o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) escolheu o empresário e ex-prefeito de Trindade Jânio Darrot para ser o seu provável nome da disputa pela prefeitura de Goiânia. Atenção ao provável. Caiado quer clarear a chapa para a Capital nos próximos dias, mas é fato que até junho o processo estará aberto, sempre sujeito a redefinições. Ele mesmo disse isso dias atrás.
Darrot é um nome que reúne qualidade que, para a disputa, são fundamentais, e que, para Caiado, se encaixam bem nos seus requisitos. Darrot tem reconhecida experiência como gestor privado e público. Sua empresa é consolidada. Sua reputação em Trindade é de competência comprovada. E este requisito é um dos principais pontos em pesquisas qualis como fonte desejo do eleitor goianiense.
Não ser conhecido é uma dificuldade, mas nada instransponível. A força da máquina do Estado, mais o conhecimento que o MDB tem da cidade, com lideranças espalhadas e diligentes, isso se resolve. Questão de competência e trabalho em campo. Muito trabalho. E principalmente os emedebistas estão motivados a conquistar uma trincheira de poder para chamar de sua.
Jânio está no MDB do vice-governador, Daniel Vilela, mas pode muito bem ir para o União Brasil de Caiado. Há até encaminhamentos neste sentido. E pode parecer que Jânio não seja uma pessoa carismática, mas isso também tem por base seu desconhecimento na Capital. Onde ele é conhecido, tem boa resposta do eleitor. Ele mostra agora, com uma agenda política, que está com vontade de entrar no jogo. E tem condições de bancar o processo com estrutura própria.
Um vice do MDB completa a chapa, para amarrar de vez as duas máquinas e atrair apoiadores que hoje ou estão assentados no governo e tem compromisso com Caiado ou buscam espaço perdido na prefeitura desde a saída de Iris em 2020. O fato de o governador querer ganhar em Goiânia pra fazer história – só Iris e Henrique Santillo elegeram prefeito na Capital – entra como mais um motivador nessa soma. E outra: para Caiado, eleger o prefeito de Goiânia é mais um validador de sua busca pela Presidência da República.
Não há, portanto, estranheza na escolha de Caiado a não ser para quem entende que poderia ser alguém mais entranhado na Capital. Jânio é ainda um nome que pode ser retirado do jogo sem causar abalo sísmico na base governista. Isso porque o governador joga também com a possibilidade de uma aliança com setores bolsonaristas. Para ele, ótimo: tudo vale para o projeto nacional.
Ruim seria isso para o MDB. Mas o MDB espera assumir o governo, em 2026, para Daniel tentar a reeleição. Pode não gostar de uma sacudida de Caiado, mas absorveria quieto em nome de um projeto maior. Daí se entende, em parte, o empenho do MDB pela alternativa Jânio e a aceitação de que ele vá para o União Brasil. Melhor isso do que não ter alternativa que preserve, acima de tudo, a boa relação com o governador. Essa a prioridade, até acima de uma chegada por cima à prefeitura. Na vice de Jânio, já chegará bem e terá espaços. Jânio precisa de Caiado, mas precisa também da capilaridade emedebista na cidade.
Se o ex-prefeito é a melhor alternativa para Caiado até no caso de não dar certo, significa que Caiado estará no jogo e terá tempo maior para articular-se nacionalmente, sua prioridade. Para Jânio, uma chance de ouro para se tornar uma liderança maior que Trindade. Dará o passo almejado por Gustavo Mendanha, se tudo der certo. Se não der, será no mínimo um candidato natural e bem mais conhecido a deputado federal.
* Texto publicado pela Tribuna do Planalto