Há mais dias de tristeza ou a tristeza que toma mais espaço na alma quando chega? Perguntinha básica para um dia de dor. Um amigo que se vai, outro que adoece, eu que não me acostumo com o fluxo contínuo de minhas lágrimas cotidianas. Meus ombros suportam o mundo, já disse Drummond, com poesia nas mãos e o suspiro mais pesado do mundo – o que imagino, porque não sei o que ele sentia, sei o que sinto quando leio seu verso, quando suporto e sustento céus e terras na ponta da pele.
Prefiro nem nomear o que me faz estar assim. Parece que qualquer fato, qualquer desajuste no mundo, é pouco para o quanto me quedo. Eu sofro por um tropeço da formiga, pelo pingo de água que resta, por uma réstia de alho que falta, ou o arroz queimado além do gosto da fazenda. Sofro ao saber da guerra, ao escutar meu coração bater sem entusiasmo, ao engolir seco por conta dos meus fracassos, e inevitavelmente por saber que não há palavras para o amor que resta apensar da dor que me consome.
Tudo é pequeno, a não ser eu que me espalho pela terra e pelo ar como inútil esperança. Estou fora de minha margem de erro, eu sei, além da área de segurança do espírito que sustenta meu corpo. E este exagero me toma de surpresa sempre, embora sempre o mesmo e sempre inevitável. Não sou menos que o meu exagero de sentimentos liquidificados. Por estar assim, corri pelo cerrado desembestado, até cansar, até verter a última gota de suor que resta aos vivos. Até ser o próprio suor.
* Texto publicado pela Tribuna do Planalto