Como diz um amigo, Ronaldo Caiado (União Brasil) e Marconi Perillo (PSDB) voltaram a coisar. Nunca deram certo, por que agora iriam andar de braços dados?
Em 1998, Caiado foi um dos avalistas do jovem candidato a governador Marconi. Candidato a presidente, candidato a governador na eleição anterior, com nome de família que arrepia de ponta a ponta no estado há décadas e décadas, Caiado postava-se na traseira da caminhonete de modo a permitir que as pessoas pudessem dizer: olha lá, o Marconi é aquele ao lado do Caiadão – e da Lúcia Vânia, completavam.
Sim, Lúcia Vânia também fora candidata a governadora, primeira-dama (Irapuan Costa Júnior, conhecia e conhece Goiás e Goiás, idem).
Nunca foram amiguinhos. Em 2003, com o esvaziamento do PFL feito por Marconi, a relação que era meio lá, meio cá, desandou.
Depois, em 2010, Marconi precisou do PFL para voltar ao governo, e só obteve o apoio necessário à reeleição porque o então senador Demóstenes Torres não deixou o partido abandoná-lo e ainda emplacou o vice, José Eliton.
Caiado fez campanha própria por mais um mandato de deputado federal. Não atrapalhou, mas também não suou a camisa pelo tucano.
Daí em diante a relação só piorou. Embora tenham integrado juntos a oposição que venceu o (P)MDB em 1998, tornaram-se opositores pessoais. Adversários. Com pinta de inimigos.
As duas derrotas de Marconi para o Senado já tiveram Caiado do outro lado da trincheira. E assim que assumiu o governo, a ordem caiadista para sua equipe foi levantar o tapete dos malfeitos do tucano e levar tudo à Justiça.
Nada estranho, portanto, que os dois não se biquem. Que chutem a canela um do outro. O curioso é ver como Caiado eleva o tom toda vez que fala dele. E vice-versa.
Olha o que disse ao Popular no domingo sobre o ex-governador: “É um canalha corrupto. O cidadão roubou a saúde de Goiás toda. Assaltou o Estado. Se enriqueceu e manteve a família com grandes patrimônios no exterior, tá certo?”
(O “tá certo” é cacoete de Caiado que o entrevistador, a Rubens Salomão, e seus editores muito bem mantiveram. Dá pra ouvir o governador falando, puxando os cantos da boca e abrindo os olhos com força).
A irritação – para dizer pouco – de Caiado está no questionamento do tucano ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) e ao Ministério Público Estadual (MPGO) sobre o formato de contratação para construção do Complexo Oncológico de Referência de Goiás, o CORA.
A resposta de Marconi no mesmo Popular: “Ladrão e corrupto é quem está gastando R$ 2,4 bilhões, com dinheiro público, sem licitação e em total afronta à Constituição. Esse destempero todo é para tirar o foco, fazer uma cortina de fumaça sobre esse gasto exorbitante que ele está fazendo, sem licitação.”
Vamos entender: o CORA é a obra por excelência de Caiado, que almeja algo como o Hospital de AMOR, o hospital de câncer de Barretos. Sua marca concreta pra ficar na história.
E a correção moral é o discurso de resistência de sua vida. Assim como o discurso de morte contra Marconi está fincado exatamente em apontar a falta de moral do tucano para sequer criticá-lo.
Importante recordar que Marconi também é adepto da pauta da moralidade. Sempre se coloca acima do bem e do mal, julgando e apontando o dedo na suposta imoralidade alheia.
Acertou no calcanhar de Caiado, que reagiu como reagimos quando chutamos com o dedinho do pé a quina do pé da mesa. Sentiu? Desgraça pouca é bobagem.
Há quem veja espetáculo de Caiado nas reações de Marconi. Marketing, no sentido de mostrar indignação como forma de apontar corrupção máxima do adversário. Pode ser. O tucano também faz pose? Pode ser, pode ser.
Marconi teve uma oportunidade de ouro nessa história. Teve um palanque para subir e chamar de seu. O problema é que ele, desde que foi ao chão das derrotas, toda vez que sobe numa cadeira que seja, cai. Não tem aproveitado as chances políticas que a vida ultimamente lhe dá. Dessa vez acerta? Pode ser. E Caiado, errou? Pode ser, pode ser, pode ser.
Caiado X Marconi é a última grande contenda da política goiana que vem do século passado, do ciclo histórico que estamos vendo terminar.
*Texto publicado pelo Diário de Goiás