Tem alguém querendo apostar corrida comigo na crônica. Coisa boa. Enquanto ele corre, eu tomo sorvete sentado na calçada com os bolsos cheios de bolinha de gude. Tenho mais o que fazer. Jogar confete nas andorinhas tem urgência primordial. E depois, catar jabuticaba e jogar no pandu. Correr, só o correr dá pena e das casas que tem muro alto entre minha agonia, a sinfonia dos amigos, e as mangas impossíveis. Essas são as melhores.
Não há lugar melhor para ser criança do que na crônica. E voar. Os voos são rasantes, cheios de volteios, e serenos também, depois das nuvens. Eu nunca voo menos do que eu sonho. Eu sempre vou mais longe do que posso. Na crônica, eu quebro telhas sem quebrar as pernas, olha que frase bonita. Em outro lugar, eu quebraria pernas, braços e o pescoço. Uma loucura imaginar o mundo sem os mata-burros. Sem crônica, não tem vida que se suporte.
Mas nada disso tem a pressa que o camarada que está cavalgando na volúpia da chegada carrega na garupa. Boa mesmo é a toada de uma palavrinha suada aqui, uma virgulazinha irregular ali, e até um pontinho de nada fora. Do lugar. Nesse caso, acelerar explode as acentuações dramáticas e as interpretações drásticas que rimam com profundidade de suspiros. Que necessidade é essa de se chegar logo ao ponto final?
Deixem a crônica fluir. Ela está bem acompanhada de mim, com esta saborosa ilusão da escrita, e de você, que a lê. Ter escrito é o melhor dos mundos; ter um leitor, o maior. O encontro nesta exata sentença é que importa. Se me apresso, chego, mas só chego, vírgula só. Vamos calabouçar juntos, ora essa, ou cada um a seu tempo, caindo, escorrendo no poço fundo. Ir mais fundo ainda. Até o último gole de suor. Até dizer chega – mas não para. Até ser substantivo, até virar adjetivo. Verbo não é tudo nesta vida.
*Texto publicado pela Tribuna do Planalto.