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Teorias da conspiração carregam muita mentira e de verdade matam gestões e políticos

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O assunto não é novo. A querela entre prefeituras e governo em crise de gestão e a imprensa é recorrente. E parte sempre dos gestores e suas equipes, que veem em cada manchete ou simples notícia negativa uma bala perdida recheada de teorias da conspiração. Nesse ponto, a guerra de imagem está perdida, ou a ponto de.

Vale repetir: a comunicação será boa se a gestão for boa. Se a gestão estiver ruim, aí só com milagre, muito dinheiro e dose cavalar de sorte. Uma coisa contamina a outra. E isso inevitavelmente se reflete na relação com a mídia em geral. Em vez de resolver os problemas internos, será sempre mais fácil culpar o outro pelos seus males de origem interna.

Saem pérolas como: aquele veículo não gosta do prefeito, do governador, do presidente. Com isso, o que sobra é má vontade na relação que normalmente já é tensa por natureza com a imprensa, que tem como princípio de ser a contestação, a pressão da pauta, o questionamento. Tudo isso, elementar e até necessário quando se tem o interesse público como primordial, vira prova (forjada) de parcialidade e, em consequência, bomba atômica de efeito auto-alimentado.

Gestão de crise é avaliação de danos e “estrategia”, assim, sem acento, como brinca um amigo com longo histórico de superação. E você só piora a crise para resolvê-la de vez quando tem controle da situação. Do contrário, será rosa de Hiroshima. Compreender e respeitar o papel de cada um na sua luta, no exercício de seu trabalho, é passo decisivo para que o que está ruim não fique pior. É não perder de vista os princípios: a imprensa será dura e vai trabalhar bem, e o gestor e sua equipe precisam fazer o mesmo.

Empatando, já é ganhou, porque significa que o caminho para a gestão fazer sua outra parte na comunicação pública, que vai além dos veículos, está aberto e pavimentado. O diferencial para a vitória na guerra pela imagem está aí. Pode estar também na relação com a imprensa, mas se com esta o diálogo está contaminado, as ações à parte cumprem o papel do diferencial indispensável para o ganho pretendido e necessário.

Gestores reclamam demais de comunicação, mas não gostam de investir em comunicação profissional. Muitos usam os recursos de mídia para outros fins. Boa comunicação é cara. Sem comunicação – nem falemos em boa -, tudo piora, tudo fica mais caro, porém isso nem é considerado. Gestores contratam ótimos comunicadores para não ouvi-los. No fundo, são amadores que se enxergam melhores que os profissionais. Daí que sempre é melhor trocar o especialista e culpar a mídia com base em elaboradas teorias de conspiração.

Pior fica quando a equipe de comunicação embarca nessas teorias de seus chefes porque simplesmente não conseguem mostrar a eles o outro lado da realidade, ou porque estão cansados demais para argumentar e aí preferem o caminho mais fácil: é culpar colegas e os veículos por tudo de ruim que a gestão tem, sendo, insisto, que o pior que a gestão tem não é sua equipe nem a mídia contra, e sim o próprio gestor/gestão.

Com ações pontuais de relacionamento, uma gestão pelo menos razoável e recursos da comunicação ficando na comunicação, dificilmente padecerá de imagem carcomida. Toda administração tem elementos até fora do arco de sua secretaria ou diretoria de comunicação que são eficientíssimos em uma gestão de crise ou na construção do conceito administrativo. Se não usa de forma eficiente o arsenal que tem e ainda se perde nos descampados repletos de minas de adversário – não dá para ignorá-los nas curvas de pasto -, é por pura e simples incompetência. Uma puxando a outra.

Teorias da conspiração na vida e na política são mentiras sedutoras, se isso por si só já não carrega redundância irrefutável. Conheço pessoas que adoram tecê-las com conhecimento de causa, ou seja, com desconhecimento dos fatos, mas intenções fáceis de serem detectadas. Não dá pra ignorá-las como acontecimentos reais dentro de uma gestão, campanha ou mandato. Mas tomar decisões a partir do que elas trombeteiam, em vez de ater-se ao que elas não alardeiam, é abrir a guarda para uma derrota certa. Os burros, coitados, não merecem a analogia.

*Texto publicado pelo Diário de Goiás

Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).
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