Vida de oficial de justiça não é fácil!

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As histórias de hoje, um tanto pitorescas, são sobre as difíceis, porém nobres atividades desempenhadas pelos Oficiais de Justiça, denominados “Meirinhos”, no passado. Trata-se de profissionais concursados que servem ao Estado como membros do Poder Judiciário.

No dia 25 de março de cada ano, esses respeitados servidores são especialmente exaltados, em referência à data na qual foi promulgada a Constituição de 1824, a primeira Carta Magna do Brasil, que previu a existência desse cargo no sistema jurídico brasileiro. Antes eram conhecidos como “Meirinhos”, termo herdado de Lisboa.

Vamos às histórias!…

Diligente no cumprimento do dever. Eficiência indiscutível. Pouco importavam as opiniões contrárias de seus opositores, pessoas que a contragosto recebiam suas visitas.

Tinha plena consciência de não ser benquisto aqui e ali. Suas visitas não eram mesmo de cortesia. Não lhe era permitido agir de maneira diferente. Ossos do ofício. Do contrário, era melhor mudar de profissão. Mas ele não queria. Gostava de seu trabalho. Até por que já avizinhava a aposentadoria.

Uma pontada no coração

Numa das diligências que o diligente oficial de justiça empreendia, e o fazia regularmente, o sujeito que recebeu a ordem do juiz – já pela segunda ou terceira vez – foi enfático:

— Me diga uma coisa: você não tem mais o que fazer não? A gente aqui cuidando da obrigação e você vem atrapalhar nosso sossego! Que coisa!…

— É a minha profissão. Cumpro ordem. A justiça manda e eu tenho que obedecer, se não perco o emprego.

— Por que então não arranja outra coisa pra fazer? Aí não vem amolar quem tá quieto no seu canto!

— Se não for eu que venho, vai ser outro Oficial! Dá na mesma!

— Pelo menos muda de cara. Já tou enjoado de ver a sua fuça toda hora na minha porta.

— É só andar direito que o Oficial de Justiça não vem mais aqui.

— Moço, me desculpe, mas a hora que eu te vejo chega a dar uma pontada no coração!…

O réu surdo-mudo

Noutra feita, na cela, o preso precisava receber citação para ser interrogado e apresentar defesa no processo. A data da audiência já estava marcada. O “Meirinho” procedeu como de costume: cumpriu a diligência e certificou nos autos: “Certifico que li o mandado em voz alta, e o preso apôs sua assinatura de ciente sem dizer uma só palavra, pelo que o dei por citado, na forma da lei”.

Ao ler a certidão, o escrivão do processo, esboçando um sorriso sarcástico, ponderou:

— Leu os termos do despacho do juiz pro preso ouvir?

— Li. Em voz alta.

— Sabia que ele é surdo?

— Não, não sabia. Mas ele assinou.

— Assinou sem reclamar nada?

— Foi. Caladinho.

— Sabia que ele é mudo também?

— Eta!… Danou-se!…

Alguém comeu um pedaço do mandado

Conta-se também que certo dia, não encontrando em casa o marido réu para ser citado, entendeu o oficial da lei de deixar o mandado com sua esposa, para ser assinado comodamente, quando ele regressasse. Coisa de camaradagem, que na verdade não poderia ser feita. Foi uma concessão. Nem atentou para o conteúdo da contrafé, que poderia gerar uma confusão danada.

No outro dia, quando voltou para buscar o tal mandado, onde certamente estaria aposta a assinatura do citando, tal não foi sua surpresa ao receber o documento das mãos da filha do casal, todo amassado e faltando um naco muito grande. Foi inevitável a pergunta:

— Nossa, mas tá tão amarrotado!… Uai, cadê o outro pedaço do mandado?

— Sabe o quê que é, seu moço? É que minha mãe leu o papel e ficou indignada. Aí, ela fez meu pai comer esse pedaço que tá faltando, na marra.

Só aí que o meirinho deu conta de que se tratava de citação para responder a uma ação de investigação de paternidade. Fruto de um “pulo de cerca” que o marido escondia da esposa e que achou que nunca seria revelado.

Elson Oliveira
Elson Gonçalves de Oliveira foi professor de Língua Portuguesa, é advogado militante e escritor, com vários livros publicados.
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